postado em 20/12/2011 08:00
A morte do ditador Kim Jong-il, ocorrida no sábado mas anunciada apenas ontem pela agência estatal norte-coreana, lançou uma nuvem de incertezas sobre o mundo. Única dinastia comunista do planeta, o regime da Coreia do Norte será agora comandado por um jovem com menos de 30 anos e sem qualquer experiência política, mas já batizado de ;Grande Sucessor;. Potências ocidentais temem que Kim Jong-un, o filho escolhido para suceder o ;Querido Líder;, queira exibir poderio militar, como maneira de se firmar no cargo ; e ontem mesmo o país voltou a testar mísseis. A histórica rival Coreia do Sul chegou a decretar estado de alerta, com apoio dos Estados Unidos, enquanto outras vozes defendem o diálogo sobre o programa nuclear norte-coreano.A notícia da morte correu logo após o meio-dia de ontem (horário de Pyongyang). Aos prantos, uma apresentadora da TV estatal informou que o ditador faleceu na manhã de sábado, vítima de um ataque cardíaco. Pouco depois, a agência oficial KCNA confirmou a escolha do filho mais novo para assumir a direção. ;Todos os membros do Partido (dos Trabalhadores, comunista), os militares e o povo devem seguir fielmente a autoridade do camarada Kim Jong-un e proteger e reforçar a frente unida do partido, do Exército e da cidadania;, informava uma nota. Assim que foi informado, o governo da Coreia do Sul convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional e determinou alerta para as tropas na fronteira intercoreana. Os dois países jamais assinaram um acordo definitivo para pôr fim à Guerra da Coreia (1950-1953).
Por telefone, o presidente dos EUA, Barack Obama, conversou com o colega sul-coreano, Lee Myung-bak. Segundo um comunicado da Casa Branca, os dois manterão contato para acompanhar os acontecimentos, nos próximos dias. A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse esperar ;uma transição estável e pacífica; no país comunista. Com preocupação semelhante, o Japão ; que não tem boas relações diplomáticas com Pyongyang ; também convocou uma reunião de emergência. ;O governo japonês espera que essa situação não tenha consequências negativas para a paz e a estabilidade da Península Coreana;, declarou um porta-voz, após prestar condolências. No Brasil, a embaixada norte-coreana decretou luto até o próximo dia 29. O funeral está previsto para um dia antes.
O temor de Japão, EUA e Coreia do Sul é de que o novo líder lance mão dos recursos bélicos do país para demonstrar seu poder. ;Há um sério risco de provocação militar adicional, pois ele precisa se legitimar;, diz Christoph Bluth, especialista em segurança internacional na Universidade de Leeds. ;O principal impacto da morte de Kim Jong-il será esse período de instabilidade;, ressaltou, em entrevista ao Correio. Os primeiros sinais de recrudescimento podem ter sido dados ainda ontem. A Coreia do Norte realizou dois testes de mísseis de curto alcance, lançados do litoral oriental, embora os sul-coreanos tenham refutado qualquer relação dessa operação com o morte do ditador.
Diálogo
Mais otimistas, líderes europeus afirmaram que é necessário manter a negociação com o novo dirigente acerca do arsenal atômico. ;Há um processo de diálogo com a Coreia do Norte, que tem altos e baixos, mas é preciso continuar essa conversa, com o apoio da China e de outros países, para que Pyongyang renuncie a suas armas nucleares;, disse o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé. Autoridades alemãs e o chanceler britânico, William Hague, deram declarações semelhantes, enquanto o presidente russo, Dmitri Medvedev, disse esperar que as mudanças não afetem a ;relação de amizade; entre os dois países. O regime norte-coreano realizou testes nucleares subterrâneos em 2006 e 2009, o que fez a Coreia do Sul interromper a ajuda humanitária que enviava à nação vizinha.
Para alguns analistas, a transição também pode servir para melhorar a vida dos habitantes. Castigados pela pobreza e pelo desabastecimento de comida, muitos dependem de ajuda estatal para sobreviver. ;Eu acho que essa é uma excelente oportunidade. Se o país usar a situação para construir uma liderança coletiva, ao estilo chinês, ele também será capaz de perseguir mudanças econômicas graduais;, avalia Ruediger Frank, especialista em economia e sociedade do Leste Asiático na Universidade de Viena, na Áustria. A China, que é parceira da Coreia do Norte e manifestou ;profundas condolências;, é uma das principais fornecedoras de alimentos e tem função estratégica nessa missão. Pequim também deseja que tudo corra bem na sucessão, para evitar que uma massa de refugiados tente atravessar a fronteira.
Leon Sigal, diretor do projeto de segurança cooperativa do nordeste da Ásia no Science Research Council, em Nova York, acredita que Kim Jong-un mantenha a estratégia do pai, pelo menos na relação com a China. Resta saber se o mesmo valerá para o programa nuclear. ;Ao longo dos anos, esse sistema conseguiu se sustentar através das gerações, passando o poder de pai para filho;, observa. ;Agora, é o momento de verificar se o filho vai manter a mesma estratégia de negociação em assuntos delicados.; Em outubro, EUA e Coreia do Norte estenderam o prazo para dialogar sobre a questão nuclear.
ONU condena a repressão
Com o voto de 123 dos 193 países-membros, e apenas poucas horas depois de anunciada a morte de Kim Jong-il, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução que condena o desrespeito aos direitos humanos na Coreia do Norte. O texto recebeu o voto contrário de 16 nações ; entre elas a China, aliada do regime de Pyongyang ; e 51 se abstiveram. A resolução, nos moldes da que é adotada anualmente pelo organismo, manifesta ;uma preocupação muito grave; com a ;tortura; e as ;condições desumanas de prisão, as execuções públicas e as detenções extrajudiciais e arbitrárias;. Minutos antes da votação, o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, comunicou que a organização ;continuará ajudando o povo da Coreia do Norte;. Neste ano, Ban havia pedido aos países doadores que reunissem US$ 218 milhões para ajuda alimentar a Pyongyang, mas a arrecadação atingiu apenas 20% desse valor.
Serviço
A Embaixada da República Popular Democrática da Coreia informa que o Livro de Condolências estará aberto, nesta Embaixada, no endereço: SHIS, QI 25, Conjunto, 10 Casa 11, Lago Sul, Brasília-DF. A representação aceitará as visitas de condolências durante o período de 20 a 27 de dezembro, no horário das 10h às 18h.