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Atentados em Bagdá fazem iraquianos temerem equilíbrio sem tropas dos EUA

Onda de atentados deixa pelo menos 72 mortos e lança dúvidas sobre a capacidade de os iraquianos estabelecerem o equilíbrio após saída das tropas norte-americanas

postado em 23/12/2011 08:00
Onda de atentados deixa pelo menos 72 mortos e lança dúvidas sobre a capacidade de os iraquianos estabelecerem o equilíbrio após saída das tropas norte-americanas
Uma semana depois da cerimônia que marcou o fim da ocupação norte-americana no Iraque, a capital Bagdá foi palco de diversos atentados contra civis. Pelo menos 72 pessoas morreram e 185 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde iraquiano. Nenhuma organização reivindicou a autoria dos ataques, que evidenciam a crise institucional no país árabe. Sem segurança e com uma crescente disputa de poder entre grupos religiosos, muitos temem a volta do autoritarismo pelas mãos do primeiro-ministro xiita Nuri Al-Maliki. Na quarta-feira, ele declarou guerra ao vice-presidente, o sunita Tariq Al-Hashemi, ao decretar sua prisão. As brigas também reacendem o risco de um conflito sectário aos moldes do que atingiu a região em 2006, quando quase 50 mil pessoas foram assassinadas.

As explosões de ontem ocorreram no começo da manhã (horário local) em escolas, mercados e outros lugares de grande circulação. A maior delas atingiu uma ambulância próxima ao hospital Rahbaat, no bairro de Karrada. Testemunhas contaram à rede de TV Al Jazeera que a bomba danificou boa parte dos equipamentos médicos e que os corpos das vítimas estavam sendo colocados na calçada. Bombas foram detonadas em outros oito bairros, tanto de maioria xiita como sunita (veja arte). ;Nós já estivemos em um estado de guerra civil antes, e eu temo voltar para esses dias. Se a situação continuar desse jeito, nós vamos definitivamente voltar para uma guerra civil;, disse ao Correio Laith, um jornalista de 37 anos que preferiu não dar o sobrenome, por medo de represálias.

Horas depois dos atentados, o premiê Al-Maliki divulgou um comunicado em que acusa os responsáveis de terem motivação política para praticarem tais atos. Segundo o primeiro-ministro, a escolha dos alvos indica a intenção de atacar inocentes e demonstra ;a forma do inimigo de afrontar os iraquianos e seu caráter criminoso ao escolher qualquer método para alcançar seus objetivos.; Al-Maliki também pediu a líderes religiosos e tribais que ajudem a identificar a autoria dos ataques e que ;fiquem do lado dos agentes, os apoiem com informações verdadeiras e ajudem a união nacional;.

Apesar do discurso, o governante colocou lenha na fogueira da disputa entre sunitas e xiitas na quarta-feira ; cinco dias depois que o Exército dos Estados Unidos finalizou a ocupação ; ao decretar a prisão do vice-presidente, Tariq Al-Hashemi, um sunita que o acusou de estar centralizando o poder tal qual o ex-ditador Saddam Hussein. A medida levou Hashemi a se refugiar no Curdistão, região autônoma que também protagoniza brigas com o comando iraquiano. Para analistas ouvidos pela reportagem, Maliki tem ferramentas capazes de colocá-lo em uma posição privilegiada de poder. ;Infelizmente, ele parece estar caminhando para se tornar um novo ditador. Ele está tentando marginalizar os curdos, tirar os sunitas do governo e, até mesmo, os xiitas que não tenham laços políticos com o Irã;, afirma Eric Davis, diretor do Centro de Estudos para o Oriente Médio na Rutgers University, em Nova Jersey (EUA).

Uma das armas do primeiro-ministro é a fraqueza das instituições iraquianas, principalmente do Exército e da Justiça. ;A estabilidade de um país não depende apenas da habilidade técnica das forças de segurança, mas também dos arranjos políticos. E a luta política no Iraque está concentrada nas mãos de duas facções, o que acabou levando aos ataques;, aponta a pesquisadora Maria Fantappie, do Carnegie Endowment for International Peace. ;A história nunca se repete da mesma forma, Maliki nunca será como Saddam Hussein. Mas, uma vez que ele tenha controle das instituições, especialmente dos aparatos de segurança, isso pode levar o Iraque para um caminho muito perigoso;, diz a especialista, que mora em Beirute (Líbano).

Erro americano
Além da disputa interna, os atentados de ontem revelam falhas na estratégia de ocupação do Iraque por parte das tropas dos EUA. Os equívocos começaram na dispensa dos soldados iraquianos em 2003, ano do início da guerra. ;Aquele exército não gostava do Saddam e, portanto, podia garantir a segurança do país;, lembra Eric Davis. Outras vantagens dos militares da época é que eles formavam um grupo heterogêneo ; havia sunitas, xiitas e curdos na organização, o que auxiliava na ideia de união do país. ;Não havia qualquer plano para o Iraque após a ocupação. Foi uma irresponsabilidade desconsiderar que o país estava com graves problemas sociais, devido a anos de sanções internacionais;, acrescenta o professor.

As críticas, contudo, não abalam a convicção do governo norte-americano. Ontem, a Casa Branca emitiu um documento em que ressalta a confiança no Exército e no governo do Iraque para investigar os atentados. ;O Iraque sofreu ataques hediondos como esse no passado, e suas forças de segurança têm mostrado que estão à altura da tarefa de responder e manter a estabilidade;, escreveu, em comunicado, o porta-voz Jay Carey.

Moradores observam destruição provocada por uma bomba, no distrito de Alawi, no centro da capital iraquiana

Eu acho...
Onda de atentados deixa pelo menos 72 mortos e lança dúvidas sobre a capacidade de os iraquianos estabelecerem o equilíbrio após saída das tropas norte-americanas
;Nos eventos que vimos no mundo árabe neste ano, percebemos muita gente tentando derrubar regimes ditatoriais e brigando pela democratização. Muitos iraquianos também queriam isso quando Saddam Hussein foi capturado. O problema é que não houve a reconstrução das instituições do país. O Iraque que nasceu a partir de 2003 foi construído sob bases muito fracas.;

Maria Fantappie, analista do Carnegie Endowment for International Peace

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