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Manifestações pró-democracia mudam relações entre Israel, Irã e os vizinhos

Renata Tranches
postado em 25/12/2011 08:11
À esquerda, os presidentes Bashar Al-Assad (Síria) e Mahmud Ahmadinejad (Irã) veem parceria sob risco; na foto da direita, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu (acima) perdeu o aliado egípcio Hosni Mubarak (abaixo)
Dois dos atores mais importantes na geopolítica do Oriente Médio, Irã e Israel não foram atingidos diretamente pelos levantes populares da Primavera Árabe, mas ambos tiveram suas realidades regionais alteradas um ano após o início dos protestos. A queda de alguns ditadores na região, como Hosni Mubarak, no Egito, e Zine El-Abidine Ben Ali, na Tunísia, ao mesmo tempo agradou o regime islâmico, que não tinha simpatia por eles, e desagradou o Estado judeu, que tinha no egípcio um importante parceiro. Analistas consultados pelo Correio afirmam que Israel e Irã precisarão buscar maneiras de lidar com a nova realidade, que, apesar de ainda estar em transformação, já causa alterações na relação entre as nações.

Para Israel, uma das principais mudanças se deve à queda do ditador egípcio, em fevereiro. O cientista político iraniano Arshin Adib-Moghaddam, membro do Instituto do Oriente Médio de Londres e professor da Universidade de Londres, considera que tanto Israel como Estados Unidos estavam confortáveis nas relações com Mubarak. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, teria trabalhado para que Barack Obama apoiasse o regime até o último momento. ;Agora, a preocupação em Israel é que os novos governos da região respondam mais à preferência da sociedade por apoiar um Estado palestino, se opondo ao Estado judeu.;

O temor quanto a um sentimento anti-israelense pode ser explicado pelo avanço dos partidos islâmicos nas primeiras eleições democráticas realizadas no contexto da Primavera Árabe. Na Tunísia e no Marrocos, eles saíram vencedores. Ao que tudo indica, ganharão também no Egito. Além do isolamento, Israel receia que ; motivados pela rejeição popular ; os novos governantes do Cairo queiram rever o acordo de paz assinado em 1978.

;O Egito já está experimentando mudanças políticas após a queda de Mubarak, que mantinha uma cumplicidade com Israel com relação aos tratados assinados entre eles;, destacou o cientista político egípcio Gamal Abdel Gawad Soltan, do Centro de Estudos Políticos e Estratégicos Al-Ahram (Cairo). O outro país árabe que firmou a paz com o Estado judeu, a Jordânia, tem mantido o patamar das relações diplomáticas no mínimo possível, para impedir a radicalização da opinião pública.

O embaixador de Israel em Brasília, Rafael Eldad, em entrevista ao Correio, ratificou a preocupação de que um governo radical no Egito coloque em dúvida os acordos de Camp David. ;São coisas que temos de ver com muita cautela, e esperamos que a democracia vá permanecer, para o bem dos países árabes, do Oriente Médio e da manutenção da paz;, afirmou. Segundo o embaixador, os partidos que têm vencido as eleições na região se dizem moderados, mas ;não sabemos se amanhã serão assim;. ;Democracia não são só eleições livres. É uma mentalidade, uma tolerância, uma abertura e uma aceitação das diferenças. Acho que levará mais do que alguns meses ou ano. É um processo longo.;


Síria
Por enquanto, de acordo com Adib-Moghaddam, o Irã parece acreditar que os futuros governos árabes tenderão a ser menos receptivos à influência israelense e norte-americana e trabalharão mais próximos a Teerã. Mas, apesar dos ganhos com a queda de alguns ditadores, em um primeiro momento, o quadro não é tão favorável para o regime islâmico. A situação na Síria, seu principal aliado no mundo árabe, está totalmente indefinida, e a ONU responsabiliza o regime de Damasco por mais de 5 mil mortes registradas na repressão aos protestos.

Na opinião de outro cientista político iraniano, Ali Banuazizi ; codiretor do Programa de Estudos Islâmicos e do Oriente Médio do Boston College ;, para o Irã, tudo dependerá de como a situação na Síria irá se desdobrar. ;Se o regime de Bashar Al-Assad cair, será um grande problema para eles;, afirma Banuazizi. Pensando nisso, Teerã começa a estabelecer canais de diálogo com líderes da oposição síria, algo que, para o cientista político, não está claro se funcionará.

Além de negociar com adversários de regimes aliados, o Irã terá que ponderar outros fatores. Para Soltan, após galgarem várias conquistas, os povos árabes se sentem mais confiantes e ;não se deixarão influenciar pela manipulação iraniana; exercida em meio às posições fracas de governos como o de Ben Ali, na Tunísia. ;Isso, definitivamente, delimitará as capacidades e as atitudes do regime islâmico em muitos países;, afirmou. Em geral, para Soltan, tanto Israel como Irã estão sendo afetados negativamente pelas recentes mudanças.

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