postado em 27/12/2011 08:00
O governo chinês decretou, ontem, a prisão de mais um ativista defensor da democracia no gigante asiático. Chen Xi, um dissidente que participou dos protestos na Praça da Paz Celestial, em 1989, em Pequim, foi condenado a 10 anos de prisão por ;subversão;. Ele foi apontado como o responsável por 36 ensaios críticos ao Partido Comunista, única legenda da China, que está no poder há 62 anos. Foi a segunda condenação política no país em três dias ; o ativista Chen Wei recebeu a sentença de nove anos de detenção na última sexta-feira. As decisões alarmaram especialistas, organizações não governamentais e as Nações Unidas, que alertaram para um recrudescimento na repressão aos opositores do regime chinês.
Durante o julgamento, Chen Xi foi considerado um réu reincidente e, por isso, levou a maior pena para esse tipo de crime. Ele já havia cumprido três anos de prisão por participar da mobilização de 1989. Em entrevista à agência de notícias Reuters, a mulher do ativista contou que o juiz considerou a autoria dos artigos contrários ao regime ;um grave crime, com impacto maligno.; Zhang Qunxuan também disse que o marido não vai recorrer da decisão. ;O tribunal ignorou todos os pontos levantados pelo advogado de defesa, então de que adiantaria apelar?;, questionou ela. Chen Xi foi preso em 29 de novembro e, desde então, nega a acusação.
Antes de sair a sentença de Chen Xi, a alta comissária de direitos humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, já havia manifestado ;profunda preocupação; com a repressão no gigante asiático. Em um documento, ela criticou a atuação do governo chinês nas últimas semanas. Além da condenação do também ativista Chen Wei, na última sexta-feira, a Justiça também prendeu o advogado Gao Zhisheng, sob a justificativa de que ele teria desrespeitado a liberdade condicional. ;A condenação e a sentença severa contra Chen Wei indicam um endurecimento das restrições já graves à liberdade de expressão na China;, apontou Navi no documento. Chen Wei foi condenado por ;incitar a subversão contra o poder do Estado; após publicar, na internet, um texto favorável à democracia. ;Esses são os últimos exemplos de uma escalada da repressão às atividades de defensores dos direitos humanos no país;, ressaltou a alta comissária da ONU.
Oportunismo
Nicholas Bequelin, pesquisador da organização Human Rights Watch na Ásia, acredita que o governo chinês está aproveitando o período das festas de fim de ano para condenar o maior número de pessoas possível. ;Isso realmente funciona bem, porque não há atividade diplomática perto do Natal, lembrou ele. Os principais alvos da Justiça são blogueiros que publicam textos relativos ao desrespeito aos direitos humanos no país. ;A prisão e a condenação de dissidentes são essencialmente motivadas por uma lógica de controle da informação. O governo quer prevenir a exposição da real situação dos direitos humanos;, explicou.
A pressa em punir seus cidadãos também está relacionada à eclosão da Primavera Árabe. Segundo especialistas, o endurecimento da repressão e das sentenças revela que o governo teme movimentos semelhantes na China. ;O fator medo está, sem dúvida, por trás das punições severas aos críticos;, afirmou Renee Xia, diretor da ONG Defensores Chineses dos Direitos Humanos. Além de Chen Wei, Chen Xi e do advogado Gao Zhisheng, o ativista Liu Xianbin também foi condenado este ano. Eles se unem a Liu Xiabo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz do ano passado e outro alvo da Justiça chinesa. Em 2009, Xiabo recebeu a sentença de 11 anos de prisão ; uma das maiores até agora ; por criar a chamada Carta 08, um documento que defende uma série de reformas políticas na China.
Massacre brutal
Na noite de 4 de junho de 1989, o Exército da China mostrou ao mundo que tem mãos de ferro para controlar qualquer tipo de manifestação contrária à ditadura do regime comunista. A Praça da Paz Celestial estava sendo ocupada há meses por estudantes, que exigiam reformas políticas no país. Horas depois do entardecer, no entanto, 40 mil soldados entraram no local e mataram 3,6 mil pessoas. Outras 60 mil ficaram feridas.