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Observadores de direitos humanos querem investigar execuções na Síria

Renata Tranches
postado em 27/12/2011 09:14
Uma grande expectativa e mais violência marcaram ontem a chegada da primeira missão de observadores da Liga Árabe à Síria como parte da implementação de um plano para pôr fim à crise no país, que já dura nove meses. Enquanto opositores e ativistas dos direitos humanos intensificavam os pedidos para que a comitiva visite a cidade de Homs ; foco dos protestos contra o ditador Bashar Al-Assad ;, forças de segurança matavam mais 23 manifestantes. O início da visita dos monitores árabes também foi cercada por informações contraditórias. Ao mesmo tempo em que o chefe da delegação afirmava que o acesso ao país ;estava bom, por enquanto;, o Conselho Nacional Sírio (de oposição) denunciou que os delegados ;não estavam conseguindo trabalhar;, sem explicar o porquê.

No total, 50 monitores e 10 oficiais do secretariado da Liga Árabe deixaram Cairo, no Egito, em um voo privado e desembarcaram em Damasco por volta das 20h (16h em Brasília), segundo a agência de notícias Reuters. O chefe da delegação, o general sudanês Mustafa Al-Dabi, chegou à capital síria no sábado, depois de uma equipe técnica, que desde quinta-feira acertava os termos logísticos da missão. Al-Dabi disse que o governo estava ;cooperando muito bem e sem restrições, por enquanto;. Mesmo assim, outro monitor, Mohamed Salem Al-Kaaby, dos Emirados Árabes Unidos, garantiu que o grupo não revelaria os locais de visita antecipadamente para evitar cerceamentos à equipe.

Apesar do segredo sobre a movimentação dos monitores na Síria, há uma expectativa de que os primeiros deles cheguem hoje a Homs. Por meio de um comunicado, o Observatório Sírio de Direitos Humanos ; organização que afirma não ter ligações com grupos políticos e mantém sede em Londres ; denunciou que a violência recrudesceu nessa cidade às vésperas da chegada dos observadores e que tropas oficiais teriam executado uma ofensiva militar contra vários bairros. O mais atingido, segundo a organização, seria o de Baba Amro, onde 23 pessoas teriam sido mortas após disparos de obuses e de metralhadoras. ;A situação é alarmante e o bombardeio é mais intenso (ontem) que nos últimos três dias;, disse o comunicado do grupo, que mantém contato com médicos que atuam nos hospitais sírios.

Impedimento
Um grupo de oposição, o Conselho Nacional Sírio, por sua vez, afirmou que observadores já estariam desde ontem em Homs, mas não podiam ;fazer seu trabalho;, segundo reportagem da agência France-Presse. O conselho, citando o membro Burhan Ghaliun, informou que os monitores ;não estavam conseguindo ir aonde as autoridades não querem que eles vão;, sem dar mais detalhes.

Em outra contradição de informações, um egípcio que se identificou como membro da missão da Liga Árabe afirmou, em entrevista por telefone à rede de tevê Al-Arabiya, que ;o que está ocorrendo na Síria é um genocídio;. ;Este regime está se vingando contra seu povo;, criticou Mostashar Mahgoub. Ele garantiu ainda ter sido ferido por forças de segurança em Homs, mas não especificou como e onde o fato teria ocorrido. A Liga Árabe negou que um de seus observadores tenha se ferido.

A visita à Síria faz parte de um plano acertado entre a Liga Árabe e o governo sírio, em 2 de novembro passado, para tentar pôr fim à violência. Desde março, cerca de 5 mil pessoas foram mortas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Grupos de direitos humanos denunciam que as forças oficiais têm endurecido a repressão aos manifestantes. O governo de Al-Assad, porém, atribui a violência a ;grupos armados;, que agiriam com a intenção de espalhar o caos. Segundo o regime, mais de 2 mil soldados morreram.

Professor de história do Oriente Médio da Universidade Trinity (Texas, EUA) e autor de uma biografia sobre Al-Assad, David Lesch se disse pessimista quanto à solução da crise pelas vias pacíficas. ;O regime de Al-Assad está all in (ao todo, na tradução livre), como se fala no pôquer. Em outras palavras, ele passou do ponto de recuar, assim como o fez a oposição;, disse Lesch ao Correio. Para o analista, o regime sírio parece acreditar que sobreviverá a essa crise assim como superou outras no passado. Lesch ponderou, entretanto, que a situação atual se difere em vários aspectos da do passado.

Casa Branca analisa pedido de Saleh
Os Estados Unidos analisam o pedido do presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, de entrada no país para tratamento médico, segundo uma fonte do governo de Barack Obama, citada pelo jornal The New York Times. A reportagem aponta que a Casa Branca não decidiu ainda se aceitará ou não receber Saleh. No entanto, se a permissão for dada será apenas para ;tratamento médico legítimo;. Em junho passado, Saleh ficou gravemente ferido após um ataque ao palácio em Sanaa, capital do Iêmen. Há um mês, ele concordou em abdicar do poder após a pressão dos protestos populares. Mas ficará no cargo até fevereiro, quando haverá eleições. Até lá, se manterá afastado das decisões no país.

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