Mundo

Michele Bachmann desiste da candidatura, após fiasco no caucus de Iowa

Renata Tranches
postado em 05/01/2012 08:49
O mau desempenho na primeira prévia republicana na corrida presidencial dos Estados Unidos tirou da disputa a representante do movimento conservador Tea Party, a deputada Michele Bachmann. A desistência da pré-candidata pode favorecer o ;azarão; do caucus de Iowa, o ex-senador Rick Santorum (Pensilvânia), que ficou apenas oito votos atrás do vencedor Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts. A votação neste pequeno e importante estado rural inaugura o longo e complexo processo de escolha do nome da oposição que enfrentará o presidente, Barack Obama, nas eleições de 6 de novembro (veja a arte). Considerado um nome secundário pelo Partido Republicano, por ocupar as últimas posições nas pesquisas de opinião, Santorum mostrou força em Iowa, graças ao perfil mais conservador de seu eleitorado. Analistas acreditam, no entanto, que o ex-senador tem pouco tempo e recursos para transformar a boa atuação em uma vitória na próxima fase, as primárias de New Hampshire, no dia 10.

O caucus de Iowa foi disputado voto a voto, em uma apuração que avançou a madrugada de ontem. Por um momento, Santorum chegou a assumir a dianteira, mas foi ultrapassado por Romney. O deputado pelo Texas Ron Paul apareceu em terceiro, seguido pelo ex-líder na Câmara Newt Gingrich. Michele Bachmann conquistou 5% dos votos e decidiu sair da corrida. O governador do Texas, Rick Perry, disse que voltaria para seu estado, onde iria ;reavaliar; a campanha. Santorum, Bachmann e Perry buscavam apoio entre os evangélicos. Com a saída ou o afastamento dos dois concorrentes, a campanha de Santorum pode ganhar grande impulso desse eleitorado a longo prazo.

A desistência da pré-candidata pode favorecer o

Mas o ex-senador precisará batalhar se quiser continuar com chances de ser nomeado pelo Partido Republicano. Na avaliação do cientista político Tim Werner, da Grinnell College (Iowa), apesar de não ter sido um ;grande show; para Romney, o resultado lhe dará o voto de confiança dos financiadores e dos apoiadores de campanha. John McCain, rival nas primárias de 2008 e senador pelo Arizona, confirmou ontem o respaldo a Romney. ;Estou aqui por uma única razão: assegurar que converteremos Mitt Romney no próximo presidente dos EUA;, declarou McCain.

O melhor desempenho em Iowa foi de Santorum, mas há dúvidas se ele repetirá a performance nas demais fases da campanha. ;Iowa tem um eleitorado bastante específico, que funciona bem para Santorum, mas ele não terá tempo ou dinheiro para transformar isso em uma vantagem nacional;, disse Werner ao Correio.

A nova etapa, as primárias de New Hampshire, será a próxima prova de fogo para o ex-senador. Se em Iowa o perfil mais conservador e evangélico o favoreceu, o oposto pode ocorrer no estado seguinte, onde os eleitores tendem a ser mais liberais. ;Acredito que Romney vencerá facilmente em New Hampshire;, arrisca Werner. O cientista político é endossado pela primeira pesquisa divulgada após o caucus, ontem, em New Hampshire, onde Romney e sua família vivem. Segundo a sondagem da Universidade de Suffolk/7 News, o ex-governador de Massachusetts mantinha 45% de apoio, mesmo nível conquistado nos últimos dias. Santorum aparece em quinto, com 6%.

Engajamento
Considerado um estado-chave nas eleições, Iowa mereceu grande atenção de Santorum, que passou meses se dedicando ao corpo a corpo nos 99 condados dessa localidade, estratégia que costuma agradar o eleitorado local, segundo explicou ao Correio o cientista político Wayne Moyer, também da Grinnel College. Moyer cita a ;atraente e engajada personalidade; de Santorum como explicações para o seu bom desempenho. ;Você ficaria feliz em convidá-lo para jantar em sua casa, mesmo se discordasse dele fortemente;, disse. Além disso, acrescenta Moyer, ele teve total apoio da sociedade e de religiosos conservadores do estado. A saída de Bachmann e o afastamento de Perry podem colaborar para a campanha de Santorum, à medida que esse eleitorado resolver direcionar seu voto para ela nos outros estados.

Bachmann, de 55 anos, era considerada um dos pilares do movimento conservador Tea Party. Única mulher entre seis homens na briga pela nomeação do Partido Republicano, ela afirmou ontem que continuará sua luta contra as políticas de Obama. ;Mesmo sem continuar nesta corrida à Presidência, minha fé em Deus Todo-Poderoso, neste país e em nossa república é inabalável;, declarou.

Representante de Minnesota no Congresso, Bachmann anunciou sua candidatura em junho em Waterloo, Iowa, sua cidade natal. Nas sondagens, ela aparecia com um número elevado de intenções de voto, brigando com Mitt Romney. Em agosto, venceu uma pesquisa em Iowa, mas caiu 10 pontos percentuais. Seu discurso impulsivo, por vezes cheio de erros, lhe rendeu críticas.

Obstinado e dono de uma postura quase ;robótica;
O homem que ganhou a primeira batalha pela indicação à candidatura republicana é, acima de tudo, perseverante. Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts (2002-2006), entrou na política tarde e aprendeu a convencer as pessoas usando a religião como arma. Quando atuou como missionário de sua igreja mórmon na França, em 1966, passou 30 meses estudando a Bíblia e indo de porta em porta para converter as pessoas. Filho de um ex-governador republicano de Michigan (norte), o republicano de 64 anos fez fortuna à frente do fundo de investimentos Bain Capital. A carreira na vida pública teve dois grandes reveses: em 1994, candidato ao Senado, foi derrotado por Ted Kennedy, irmão do ex-presidente John Kennedy; em 2008, perdeu a nomeação republicana para John McCain. De físico atlético, queixo quadrado e têmporas grisalhas, Romney é bastante criticado por sua ;atitude robótica; e pela falta de espontaneidade. Suas posições políticas são radicais e incluem aversão ao aborto e às pesquisas com células-tronco, além da defesa do endurecimento de leis contra a imigração ilegal. Na madrugada de ontem, comemorou a vitória no caucus de Iowa ao lado da mulher, a empresária Ann Romney, e de quatro dos cinco filhos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação