postado em 05/01/2012 08:53
A presidente Cristina Kirchner foi operada na manhã de ontem no Hospital Austral, centro médico de alta complexidade situado em uma região nobre de Buenos Aires. A cirurgia para a retirada de um tumor na tireoide durou três horas e meia (leia mais na página 19). Pouco depois das 14h (horário local), a mandatária já estava no quarto, e um porta-voz do governo leu o primeiro boletim médico. ;O responsável pela intervenção, Pedro Saco, afirmou que a cirurgia ocorreu sem inconvenientes ou complicações;, anunciou Alfredo Scoccimarro. A informação foi seguida de gritos e de uma salva de palmas de dezenas de pessoas que faziam vigília em frente ao hospital. Algumas estão acampadas no local desde segunda-feira.Cristina chegou ao centro médico de helicóptero, por volta das 7h30. Estava acompanhada dos dois filhos, Máximo e Florencia, e da mãe, Ofelia. Antes de receber a presidente, o prédio do hospital ;mantido pela organização católica Opus Dei ; passou por uma ostensiva verificação de segurança, que se estendeu aos quarteirões próximos. A viúva Kirchner está instalada em um quarto no segundo andar, e seus familiares ocupam acomodações vizinhas. Ela ainda deve ficar internada por, pelo menos, 48 horas. O próximo boletim médico será divulgado hoje, por volta do meio-dia.
Durante toda a operação, jovens aglomerados em frente ao hospital empunhavam cartazes de apoio e cantos kirchneristas. ;Cristina, Deus e Néstor cuidam de você;, dizia um dos textos erguidos pelos manifestantes, que carregavam também um boneco do ex-presidente. Outros cartazes traziam palavras de estímulo, como ;Força, morena; ; em alusão ao apelido carinhoso dado pelos correligionários. A maioria dos presentes era da organização política La Cámpora, que deu forte suporte à reeleição de Cristina. A doença da mandatária foi descoberta em 22 de dezembro e pegou os argentinos de surpresa. O anúncio sobre o estado de saúde foi feito no dia 28. ;O manejo da informação foi muito bom, não parece que o governo tenha tentado ocultar qualquer coisa;, diz Hernán Charosky, diretor da organização Poder Cuidadano, que avalia a transparência no país vizinho.
Boudou
A viúva Kirchner deve ficar afastada do cargo até 24 de janeiro. Até lá, o vice-presidente, Amado Boudou, assume as funções executivas. Roqueiro nas horas vagas, o vice apenas manterá as coisas da forma como Cristina as deixou. Em tom de brincadeira, a presidente chegou a dizer para o companheiro: ;Veja bem o que você vai fazer, hein;. ;Foi uma piada, com um fundo de verdade. O poder na Argentina está muito concentrado na figura dela, então, Boudou não vai se apresentar como alguém com um perfil muito executivo;, aponta Luis Fernando Ayerbe, professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A preocupação de Cristina não é em vão. Em 2008, durante seu primeiro mandato, a presidente teve uma briga com Julio Cobos, seu vice na ocasião. Cobos deu o voto decisivo para impedir o aumento de impostos agrícolas, algo que prejudicou o governo e irritou a chefe do Executivo. Com esse histórico, é provável que Boudou mantenha-se na linha. ;Esse é o momento de o vice mostrar responsabilidade, até porque deve fazê-lo, se pretende concorrer à Presidência nas próximas eleições;, analisa Ayerbe.
Comércio Exterior ganha nova titular
O governo argentino nomeou, esta semana, a nova subsecretária de Comércio Exterior. Paula Español entrou no lugar de Iván Heyn e chefiará um dos núcleos do Ministério da Economia do país vizinho. Formada em economia e doutora pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris, Paula fazia parte do mesmo grupo de Heyn. Ele foi encontrado morto durante uma conferência do Mercosul em Montevidéu, no mês passado. O caso ainda não foi elucidado, mas há possibilidade de que ele tenha morrido asfixiado durante uma prática sexual perigosa.