Agência France-Presse
postado em 05/01/2012 18:51
Camp Pendleton - O julgamento em uma corte marcial contra o suposto cérebro da matança de Haditha, o pior crime de guerra de que são acusados soldados americanos no Iraque, começou nesta quinta-feira (5) na Califórnia. O advogado do acusado se declarou "confiante" na absolvição dele.O sargento Frank Wuterich, de 31 anos, é alvo de nove acusações de assassinato por seu papel na morte de 24 civis iraquianos no dia 19 de novembro de 2005.
O julgamento começou pouco depois das 10H00 locais (16H00 de Brasília) com a seleção do júri, diante de uma corte marcial em Camp Pendleton, maior base de Marines (fuzileiros navais) do mundo, a 130 km ao sul de Los Angeles. As discussões duraram cerca de um mês.
O caso é um dos mais comprometedores para os Estados Unidos, que no dia 18 de dezembro puseram fim a oito anos e nove meses da controversa presença no Iraque, durante a qual as Força Armadas chegaram a ter até 170.000 homens no terreno.
Frank Wuterich é o último acusado neste caso; os outros sete foram todos absolvidos. Chefe do esquadrão incriminado, sem nenhuma experiência prévia de combate, Wuterich se transformou no principal acusado.
Quinta-feira de manhã, pouco antes da abertura do processo, um de seus advogados, Neal Puckett, declarou à AFP que estava "confiante que durante o processo a verdade sobre Haditha será conhecida e que o sargento Wuterich será absolvido".
O processo, que corre em Camp Pendleton, começou depois da revelação do caso pela revista Time, na primavera de 2006.
Os fatos remontam ao dia 19 de novembro de 2005, quando um militar americano que participava de uma patrulha morreu por causa de uma bomba artesanal colocada em uma estrada de Haditha, 260 km a oeste de Bagdá.
Segundo os advogados dos fuzileiros, insurgentes escondidos nas casas começaram então a disparar, no que se transformou em um combate em que foram respeitadas as normas fixadas pelo alto comando.
Contudo, segundo a acusação, não havia esses insurgentes e os militares empreenderam uma matança que durou três horas para vingar a morte do colega, matando inclusive cinco ocupantes de um táxi que se aproximava do bairro. Entre as vítimas, 10 eram mulheres e crianças, fuziladas a queima-roupa.
A acusação é composta pelo tenente coronel Sean Sullivan e o comandante Nicholas Gannon, que já acusaram vários soldados por casos relacionados à presença americana no Iraque.
O sargento Wuterich está atualmente em serviço em Camp Pendleton.
Se for considerado culpado, pode ser condenado à prisão perpétua. Mas os juízes militares de Camp Pendleton, costumam ser resistentes, nos casos sobre Iraque, a condenar seus colegas e as penas são menores.
A defesa do sargento Wuterich -- os advogados militares Neal Puckett e Haytham Faraj -- esgotaram todos os procedimentos de apelação possíveis antes que o cliente fosse enviado à corte marcial.
Sofreram várias derrotas: em particular, não puderam evitar que a acusação tivesse acesso a imagens não divulgadas de uma reportagem da rede CBS com uma entrevista com o sargento Wuterich, realizada antes de sua acusação.