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Presidente interino da Argentina só tomará decisões após consultar Cristina

postado em 05/01/2012 20:53
A Presidência da República da Argentina ficará sob comando do economista Amado Boudou, vice-presidente, de 48 anos, por 20 dias. Ontem (4) enquanto a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, era operada para a retirada de um tumor na glândula tireoide, ele se reuniu com a equipe econômica. Porém, os analistas políticos argentinos dizem que Boudou só tomará decisões, depois de consultar Cristina. Ele fica no poder até o dia 24.

;Não houve presidente da República, nos últimos 28 anos de democracia, que acumulou e centralizou tanto poder na Argentina como Cristina Kirchner;, disse à Agência Brasil o diretor do Instituto de Planejamento Estratégico, Jorge Castro.

Castro lembrou que Cristina foi reeleita presidente em outubro com 54% dos votos, sendo que manteve uma margem de vantagem de 40% em relação a Hermes Binner, segundo colocado nas votações. ;Não existe oposição e Boudou não tem peso político próprio. Ele foi eleito vice única e exclusivamente por causa de Cristina. Por isso se limitará a fazer o que ela mandar;.

Boudou foi ministro da economia antes de ser escolhido por Cristina para ser vice-presidente. O cargo de vice-presidente na Argentina é exercido conjuntamente com a Presidência do Senado. Nas horas vagas, ele se dedica às atividades de roqueiro e motoqueiro. Esse perfil ajudou a atrair os votos dos jovens para a reeleição de Cristina.

;Nunca na história da Argentina um vice-presidente assumiu interinamente a Presidência tão rapidamente como agora;, disse à Agência Brasil o analista político Rosendo Fraga. ;Mas como Cristina concentra tanto poder nas suas mãos, a doença dela tem um impacto político [maior];.

No período da sua interinidade, Boudou optou por despachar no seu escritório no Banco Nación e, não na Casa Rosada ; a sede do governo argentino. Para os analistas políticos, o comportamento dele confirma que Cristina, mesmo recuperando-se da cirurgia, vai continuar governando.

A presidente foi reeleita em um momento econômico delicado no cenário interno e também internacional. Um dos principais desafios do governo é o controle da inflação. O índice oficial é 9%, mas consultorias privadas, alguns governos provinciais (estaduais) e entidades sindicais dizem que os preços aumentam entre 25% e 33% ao ano.

[SAIBAMAIS]A segunda gestão de Cristina promete ser mais difícil do que o período em que seu antecessor, Néstor Kirchner, o marido de Cristina, governou. A presidente não deve dispor de tantos recursos para distribuir em programas sociais. Por isso, cortou os subsídios à eletricidade, ao gás e ao transporte concedidos na época da crise de 2001.

O governo de Santa Cruz, província que os Kirchner governaram durante décadas, implementou um plano de ajuste fiscal que provocou protestos. ;Janeiro deve ser um mês calmo na Argentina, mas já temos sinais de que este ano os conflitos sociais devem aumentar;, disse Fraga.

Em 2003, quando Néstor Kirchner foi eleito presidente, a Argentina foi favorecida pela conjuntura internacional e os altos preços das commodities que contribuíram para o pagamento da moratória da dívida externa do país. Néstor morreu em outubro de 2010, um ano antes da reeleição de Cristina.

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