Agência France-Presse
postado em 07/01/2012 13:46
Os cristãos egípcios celebram neste sábado o Natal copta em uma atmosfera marcada pelo retorno da violência sofrida por sua comunidade em 2011 e pelo temor que provoca a contundente vitória eleitoral dos islamitas nas eleições legislativas. "Os cristãos não se sentem seguros. Pensavam que a revolução mudaria alguma coisa, que iríamos ter tempos melhores, mas é o contrário", afirmou uma fiel, Soher Hana, na saída de uma igreja no Cairo.Na sexta-feira, um forte esquema de segurança protegia as igrejas para a tradicional missa da meia-noite que antecede o dia de Natal copta, 7 de janeiro, anunciaram as autoridades egípcias. O presidente americano Barack Obama reiterou a necessidade de oferecer "proteção às minorias cristãs e de outras religiões", citando principalmente o caso do Egito, onde os coptas são a comunidade cristã mais importante no Oriente Médio.
Oficiais e autoridades políticas participaram, sexta-feira à noite, da missa realizada na Catedral de São Marcos do Cairo, pelo papa da igreja copta ortodoxa, Shenouda III. O número 2 do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), Sami Anan, e uns dez generais desta instância, que dirige o país desde a queda do regime de Hosni Mubarak em fevereiro de 2011, assistiram o ato.
A Irmandade Muçulmana também enviou uma delegação, liderada pelo chefe de sua formação, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), Mohamad Mursi, que ofereceu seus melhores desejos ao papa, mas não assistiu a missa. A Irmandade Muçulmana, que até agora atuava na clandestinidade, obteve cerca de 36% dos votos nas primeiras eleições legislativas que estão acontecendo desde a queda de Mubarak, o que os transforma no primeiro movimento político do Egito.
Nos últimos dias, a confraria aumentou sua mensagem de proteção à minoria copta e pediu a seus militantes que ajudem a manter as igrejas seguras. Mas os coptas - que representam entre 6 e 10% dos 82 millhões de egípcios- continuam inquietos frente ao avanço do movimento sunita ultraconservador salafista, que até agora conseguiu entre 20 e 25% dos votos. "A Irmandade Muçulmana busca, de alguma forma, fazer declarações equilibradas, mas as palavras dos salafistas, que afirmam que os cristãos são infiéis ou que não podem ter funcões oficiais, nos dão medo", explicou Fayez Abdo, outro fiel.
Shenouda III disse em sua homilia que o "Egito atravessa um período transitório crítico, mas estamos seguros de que o faremos em paz". O papa também elogiou o papel das forças armadas, "que fizeram sacrifícios pelo bem do Egito e de seu povo". Contudo, a repressão do exército contra uma manifestação de fiéis coptas no Cairo em fevereiro deixou, pelo menos 25 mortos, a maioria cristãos, o que reforçou a sensação de discriminação que vive esta comunidade.
Em janeiro de 2010, um atentado contra uma igreja na saída da missa de Natal no Alto Egito deixou seis coptas e um guarda muçulmano mortos. Um ano antes, outro ataque contra uma igreja de Alexandria (norte) durante a noite de Ano Novo provocou a morte de cerca de 20 fiéis. Depois da queda de Mubarak, as agressões entre coptas e muçulmanos não cessaram. Em maio, enfrentamentos no bairro popular de Imbaba, no Cairo, deixaram 12 mortos e mais de 200 feridos.