Agência France-Presse
postado em 09/01/2012 12:35
Londres - O governo britânico discutiu nesta segunda-feira uma proposta para oferecer à Escócia um referendo sobre a independência antes do que imaginavam os nacionalistas, uma aposta arriscada com a qual espera obter a vitória do "Não", mas que também pode se voltar contra Londres.Segundo a imprensa britânica, o primeiro-ministro David Cameron estuda apresentar ao presidente do governo semiautônomo escocês, o nacionalista Alex Salmond, a proposta de uma consulta, prometida pelo escocês após a vitória eleitoral em 2011, desde que aconteça em um prazo de 18 meses, limite a pergunta a "Sim" ou "Não" à autodeterminação e que o resultado seja vinculante.
Um porta-voz de Downing Street confirmou que o ministro das Finanças, George Osborne, apresentaria nesta segunda-feira a proposta do governo no conselho de ministros, mas se negou a comentar os detalhes de um projeto que deve ser apresentado nos próximos dias ao Parlamento.
Cameron, que afirma estar disposto a defender "com unhas e dentes" a integridade do Reino Unido, anunciou no fim de semana a determinação de resolver de maneira rápida a questão da independência, motivado pelo impacto negativo que, segundo ele, a incerteza provoca sobre a economia escocesa e os escoceses.
"Isto é muito prejudicial para a Escócia porque algumas empresas começam a questionar se a Escócia vai ser parte do Reino Unido, se vão continuar unidos e se devem investir", explicou Cameron ao canal Sky News.
"Temos que avançar e dizer: vamos solucionar este assunto de maneira justa e decisiva", completou em outra entrevista, ao canal BBC.
O Partido Nacional Escocês (SNP), liderado por Salmond, acusou o primeiro-ministro de tentar interferir em um assunto que não lhe diz respeito, ao tentar impor as modalidades da consulta.
"Esta é uma tentativa descarada de interferir em uma decisão que cabe ao governo escocês, em termos de calendário do referendo, e ao povo escocês, em termos de resultados do referendo", declarou a vice-presidente do SNP, Nicola Sturgeon, à BBC.
O SNP conseguiu pela primeira vez em maio a maioria absoluta no Parlamento semiautônomo escocês e seu carismático líder reiterou a promessa de organizar um referendo sobre a independência desta região britânica.
Salmond, que já havia governado antes em minoria, planejava um referendo para a segunda metade da nova legislatura de cinco anos, de preferência em 2014, para ter tempo de convencer os quase cinco milhões de compatriotas.
Uma pesquisa de dezembro do instituto Ipsos MORI para os jornais The Times y The Sun mostrou o apoio de 38% dos escoceses à independência, três pontos a mais que o registrado em agosto.
Além do "Sim" e "Não" à independência, o projeto de Salmond contemplava também uma terceira opção: mais autonomia dentro do Reino Unido.
"Acredito que Alex Salmond sabe que os escoceses no fundo não querem uma separação total do Reino Unido e está tentando criar uma situação para que se propague e aconteça", afirmou Cameron à BBC.
"Precisamos de uma ação decisiva para poder esclarecer o tema".
Os nacionalistas escoceses, no entanto, esperam poder capitalizar localmente esta nova determinação governamental.
"Suspeito que quanto mais um governo conservador tentar interferir na democracia escocesa, maior será o respaldo à independência", advertiu Nicola Sturgeon.