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Teerã condena à morte norte-americano acusado de trabalhar para a CIA

postado em 10/01/2012 08:00

Pela primeira vez desde a Revolução Islâmica, há 32 anos, o Irã condenou um norte-americano à morte. Amir Mirzai Hekmati, 28 anos, um ex-fuzileiro da Marinha dos Estados Unidos, é acusado de praticar espionagem a serviço da Agência Central de Inteligência (CIA). Hekmati, que também tem cidadania iraniana, foi preso em agosto do ano passado pelas autoridades persas. Em dezembro, o regime islâmico divulgou um vídeo por meio do qual ele aparecia confessando o crime. A sentença foi proferida no mesmo mês. No entanto, a imprensa do Irã anunciou o veredicto apenas ontem, em meio à crescente tensão diplomática entre os dois países.

Durante o julgamento, Hekmati foi declarado um moharab, expressão que se refere a uma pessoa em guerra contra Deus. ;Amir Mirzai Hekmati, culpado de colaboração com um país hostil e de espionagem para a CIA, foi condenado à morte pelo tribunal revolucionário de Teerã;, anunciou a agência Fars. A Irna, veículo oficial do governo iraniano, afirmou que o jovem recebeu o veredicto por tentativa de terrorismo contra o Irã. Classificado como um ;corrupto na Terra;, Hekmati foi julgado em 27 de dezembro e ainda tem 20 dias para recorrer da sentença.

Filho de um casal que abandonou o Irã após a tomada de poder pelos aiatolás, Hekmati nasceu no estado do Arizona. Em 2001, ingressou no serviço militar, onde trabalhou como tradutor do árabe para o inglês. Ao deixar a Marinha, o jovem abriu uma empresa com a mesma atividade, por meio da qual assinou contratos com as forças de segurança dos EUA. A família e os amigos negam que ele estivesse fazendo espionagem. Seus pais disseram a jornalistas norte-americanos que o filho estava em Teerã para visitar as duas avós. Ele teria sido preso em 29 de agosto.

Embora os parentes já soubessem que o rapaz estava detido, não acionaram o governo dos EUA, sob a promessa de que ele seria logo libertado. No fim do ano passado, no entanto, quando ocorreu a divulgação da suposta confissão do rapaz, decidiram procurar ajuda. ;Nós acreditamos que esse veredicto não foi nem transparente, nem justo. Amir não estava envolvido com qualquer ato de espionagem, ou ;guerra contra Deus;. Amir não é um criminoso. Sua vida está sendo explorada para fins políticos;, desabafou a família.

Injustiça
Uma tentativa de intervenção dos EUA foi arquitetada com a embaixada da Suíça em Teerã, uma vez que os norte-americanos não têm relações diplomáticas com o país persa. Mas o Departamento de Estado revelou, ontem, que os diplomatas europeus não foram autorizados a visitar Hekmati, antes ou depois do julgamento. Os pais do preso tentaram contratar uma dezena de advogados para o filho, mas a Justiça iraniana apenas permitiu que ele fosse representado por uma pessoa indicada pelo governo.

Ao saber da notícia, o Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca anunciou que tomará as medidas cabíveis. ;Se for verdade, condenamos fortemente esse veredicto e trabalharemos com nossos sócios para repassar a nossa condenação ao governo iraniano;, disse o porta-voz do conselho, Tommy Vietor. ;A maioria das pessoas, dentro dos EUA e entre a comunidade internacional, vê essa decisão do Irã como mais um esforço para obter ganhos contra os norte-americanos;, disse ao Correio o analista Paul Pillar, um veterano da CIA e hoje professor de segurança internacional na Georgetown University. Ontem, o Pentágono rebateu a possibilidade de o Irã estar agindo para fechar o Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico. O local escoa 35% da produção mundial de petróleo e se tornou, nas últimas semanas, palco de testes bélicos dos dois países.

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