postado em 10/01/2012 08:01
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou, ontem, mais um ingrediente para a já turbulenta relação entre os Estados Unidos e o Irã. Depois de inúmeras especulações, o órgão anunciou que o país persa começou o processo de enriquecimento de urânio a 20%. Considerada uma etapa essencial para o desenvolvimento de armas nucleares, a manipulação é feita na usina de Fordow, localizada no norte do país, próximo à cidade de Qom (veja mapa). Teerã nega qualquer intenção de utilizar o arsenal para fins militares, mas o local do enriquecimento, em meio às montanhas, indica a preocupação em manter a fábrica a salvo de ataques aéreos. A AIEA garante que todas as atividades serão monitoradas.
;Podemos confirmar que o Irã iniciou a produção de urânio enriquecido até 20% na usina de Fordo. Todo o material nuclear na instalação permanece sob a supervisão da agência;, garantiu a AIEA, por meio um comunicado divulgado na tarde de ontem. Mais cedo, o representante iraniano na organização tinha dado uma entrevista confirmando que o país começou o enriquecimento. ;Essa notícia já vem sendo esperada desde a década de 1980, quando o Irã passou a fazer um esforço contínuo para esse fim;, lembra o professor Carlos Vidigal, que dá aulas de política internacional na Universidade de Brasília (UnB).
A usina de Fordow foi descoberta pela AIEA em 2009, após constantes investigações em território iraniano. À epoca, o regime islâmico disse que o projeto da construção havia começado dois anos antes. No entanto, a agência acredita que a obra tenha saído do papel ainda em 2006. Teerã argumenta que seu programa atômico é pacífico e que o enriquecimento de urânio a 20% consiste numa fase necessária para a geração de energia nuclear. Partes do mesmo composto seriam utilizadas também para o tratamento de tumores malignos. O problema, dizem especialistas, é que, com a finalização dessa etapa, torna-se mais fácil enriquecer o elemento químico a 80% ; o percentual necessário para a fabricação de uma bomba atômica.
Conflito
Analistas políticos não acreditam que o Irã esteja perto de atacar os EUA ou Israel. ;A constatação (do enriquecimento de urânio) não surpreendeu ninguém. Não creio que vai gerar qualquer tipo de alarme;, diz o professor Paul Pillar, da Georgetown University. Isso porque o país islâmico ainda precisa vencer uma série de desafios a ponto de conseguir surpreender o inimigo com um arsenal atômico. A confirmação da AIEA, porém, serviria como desculpa para eventuais intervenções em território iraniano. ;O comunicado da agência pode legitimar uma ação armada, com o argumento de que eles estariam produzindo armas letais;, observa Carlos Vidigal.
Embora boa parte dos analistas não acreditem que os EUA tenham energia para entrar em um conflito como esse, uma intervenção não está descartada ; mesmo sem o aval do Conselho de Segurança das Nações Unidas. ;Os norte-americanos se livraram dos seus problemas no Afeganistão e no Iraque, então, teriam condições de se concentrar no Irã;, especula o professor da UnB. A missão, contudo, seria ainda mais complicada do que no ex-reduto de Saddam Hussein. Além de muito maior, a população iraniana é mais coesa, em termos de ideologia.
Além disso, a elite do país do presidente, Mahmud Ahmadinejad, estaria disposta a lutar contra um inimigo invasor. Ontem, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, reforçou que a nação não mudará de rumo. ;Autoridades ocidentais declararam em várias ocasiões que, com sanções e pressão, querem desencorajar o povo e suas autoridades a levarem seus planos adiante. Mas estão equivocadas e não atingirão seus objetivos;, disse o aiatolá a uma rede de TV. (CV)