Agência France-Presse
postado em 11/01/2012 18:56
Brasília - Com uma economia vigorosa que atrai cada vez mais trabalhadores do mundo, o Brasil decidiu nesta semana frear uma onda de imigração ilegal de haitianos, rompendo uma tradição permissiva que abre as portas para políticas que antes criticava em países ricos, indicaram analistas.O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira que regularizará os quase 4 mil haitianos que entraram ilegalmente no país, a maior parte nas últimas semanas, mas irá impor a partir de agora um visto para a entrada destes cidadãos e pretende bloquear novas ondas de imigração ilegal em suas fronteiras.
A decisão de regularizar os haitianos que entraram ilegalmente era esperada, mas o endurecimento da política de imigração, tradicionalmente mais permissiva, surpreendeu.
"É uma situação nova para o Brasil, que, pela primeira vez, enfrenta estes fluxos de pessoas que vêm ao país porque veem em sua economia uma fonte de emprego e oportunidades", afirmou à AFP Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Introduzidos por "coiotes", os haitianos, que há dois anos viram seu país sucumbir a um terremoto, buscam trabalho nas grandes usinas hidroelétricas em construção na Amazônia ou em São Paulo, disse à AFP o secretário de Justiça e Direitos Humanos do estado do Acre, Nilson Mourão, na pequena cidade amazônica de Brasileia, que acolhe mais de mil haitianos.
"É uma consequência que o Brasil paga por ter se tornado a sexta maior economia mundial", acrescentou.
Durante décadas de crescimento econômico na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, os brasileiros viajaram a estes países, frequentemente em condições precárias, em busca de oportunidades de trabalho, e o país fez duras críticas às restrições migratórias nestes países.
Agora é o Brasil que recebe europeus, americanos e trabalhadores de países pobres.
"Consideramos injustas as políticas migratórias adotadas em alguns países ricos", criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao aprovar, em 2009, uma anistia que regularizou dezenas de milhares de estrangeiros em situação ilegal.
"O Brasil sempre reagiu com a devida indignação ao trato muitas vezes discriminatório dispensado aos seus cidadãos nos Estados Unidos e na Europa", mas agora terá que "se preparar para receber de modo adequado as novas ondas de imigrantes", destacou o jornal Folha em seu principal editorial nesta quarta-feira.
O Brasil não é um país fácil para conseguir permissão de trabalho e residência. No entanto, fez vista grossa à entrada de imigrantes de países mais pobres e aprovou anistias periódicas.
"São dadas mais oportunidades ao imigrante ilegal e pobre que ao legal para obter o status de residente e visto de trabalho, fruto de uma política baseada na solidariedade com os países pobres", explica Stuenkel, para quem o país, impedido de controlar suas gigantescas fronteiras, enfrenta um "difícil dilema".
"A exigência do visto decidida pelo governo não impedirá que outros haitianos continuem entrando ilegalmente. E, quando isso ocorrer, o Brasil será testado de outro modo, quando tiver que decidir se rejeita sua entrada ou os expulsa", explicou à AFP o professor de Direito Internacional Salem Nasser.
A presidente Dilma Rousseff visitará o Haiti em fevereiro. O Brasil lidera as tropas da ONU neste país desde 2004 e, desde então, promove a cooperação e o desenvolvimento.