postado em 14/01/2012 13:08
Desta vez, o regime de Thein Sein fez uma concessão mais que simbólica. Ao anistiar 220 prisioneiros políticos ; entre eles líderes importantes da oposição ;, as autoridades de Mianmar receberam elogios de ativistas dos direitos humanos e levaram os Estados Unidos a reatarem todos os laços diplomáticos com o país do Sudeste da Ásia. Das principais penitenciárias e de residências onde cumpriam prisão domiciliar, os presos saíram carregando pequenas sacolas e foram saudados com emoção por familiares e simpatizantes. Entre os libertados, estão o ex-chefe militar e ex-primeiro-ministro Khin Nyunt, 73 anos; os líderes estudantis Min Ko Naing e Ko Ko Gyi, que comandaram os levantes de 1988 e de 2007; o monge budista Gambira, um dos expoentes da revolução de 2007; e o blogueiro Nay Phone Latt. Min Ko Naing havia sido condenado a 65 anos de cadeia.;A decisão do presidente Thein Sein de libertar centenas de presos de consciência é um passo substancial para a reforma democrática;, afirmou o presidente norte-americano, Barack Obama. Pela primeira vez em 24 anos, os EUA enviarão um embaixador a Mianmar. ;Nós começaremos o processo de troca de embaixadores com Burma;, anunciou a secretária de Estado, Hillary Clinton, referindo-se ao nome pelo qual Mianmar é conhecido por seus cidadãos.
Diretor da ONG Burma Democratic Concern (BDC), o birmanês Myo Thein enalteceu a decisão do ex-general Thein Sein. ;As libertações confirmam que o regime realiza reformas e o faz de modo sério. Saudamos isso como uma mudança positiva e, sinceramente, esperamos pela democracia em Burma;, afirmou ao Correio. ;Eu creio verdadeiramente que Mianmar está se movendo em direção à democracia plena;, acrescentou. Segundo Myo Thein, tanto o governo quanto a oposição estão dispostos a obter a reconciliação nacional. Aliado da política Aung San Suu Kyi, laureada com o Nobel da Paz em 1991, Myo Thein disse que 232 presos políticos restantes ainda precisam ser libertados.
O partido de Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND), comemorou a notícia. ;É um sinal positivo para todo o mundo. Saudamos as libertações;, indicou o porta-voz, Nyan Win. Para um brasileiro que visitou os calabouços do regime de Than Shwe (1992-2011), a anistia sinaliza o desejo do governo de fazer a transição política progredir. ;A passagem de uma ditadura de mais de meio século para a democracia é um processo tortuoso, cheio de eventos inesperados. Falta muito para a democracia plena, mas nem por isso os passos do governo devem ser desprezados;, disse ao Correio o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, relator especial da ONU para Mianmar entre 2000 e 2008 e atual presidente da comissão de investigação das Nações Unidas sobre a Síria.
Pinheiro admite que o regime de Thein Sein experimenta um processo de ;abertura gradual;, o que torna difícil um retrocesso autoritário. ;A possibilidade de Suu Kyi concorrer às eleições é um fato extraordinário. Após encontrá-la em prisão domiciliar por inúmeras vezes entre 2000 e 2007, considero essa chance um dos melhores auspícios para a consolidação da abertura democrática no país;, concluiu.
Consultadas pela reportagem, as duas principais entidades defensoras dos direitos humanos no mundo também saudaram a medida. ;É um passo significativo. Anos de apelos internacionais pela libertação de prisioneiros detidos há bastante tempo parecem ter empurrado o governo de Burma a finalmente fazer a coisa certa. Outros países, inclusive o Brasil, deveriam continuar a lutar pela libertação de todos os prisioneiros políticos de Burma;, admitiu a americana Elaine Pearson, vice-diretora da Divisão Ásia da Human Rights Watch. Benjamin Zawacki, especialista em Mianmar da Anistia Internacional, disse que Thein Sein ;finalmente responde ao desejo de mudança do povo birmanês;. ;As mudanças estão a caminho de Mianmar, ainda que algumas não tenham sido para melhor, especialmente nas áreas de minorias étnicas, onde as violações dos direitos humanos têm se intensificado;, comentou.
Um novo futuro
;A libertação dos prisioneiros indica um avanço no âmbito de três liberdades fundamentais para a democracia: de expressão, de reunião pacífica e de associação. Esses direitos foram sistematicamente violados durante as eleições de 2010;
Benjamin Zawacki, pesquisador sobre Mianmar pela Anistia Internacional
;Mianmar está mudando agora. Desde que o regime de Thein Sein chegou ao poder, ele tem realizado uma série de reformas. Mianmar está se movendo na direção certa. Todos devemos redefinir o país e permanecer unidos para enfrentar os desafios, de forma pacífica;
Myo Thein, birmanês, diretor da ONG Burma Democratic Concern (BDC)