postado em 21/01/2012 08:00
A apenas 11 dias do desembarque da presidente Dilma Rousseff em Havana, a oposição de Cuba reviveu ontem a dor de enterrar um de seus integrantes mais conhecidos. O preso político Wilmar Villar de Mendoza, 31 anos, morreu às 18h45 (21h45 em Brasília) de quinta-feira, em Santiago de Cuba, depois de 50 dias em greve de fome. Os opositores e o governo dos Estados Unidos acusam o regime de Raúl Castro de sonegar ajuda médica ao ativista que usou o jejum para protestar contra sua própria condenação.
O cubano Elizardo Sánchez Santacruz ; fundador da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional de Cuba (CCDHRN) ; disse ao Correio que Villar estava detido desde 12 de novembro de 2011, sob as acusações de desacato, resistência e atentado. A prisão ocorreu durante um protesto do grupo do qual fazia parte, a União Patriótica de Cuba. ;Ele foi sentenciado a quatro anos de prisão, em um julgamento sumaríssimo, sem garantias processuais. Villar cumpria a pena na penitenciária de segurança máxima de Aguadores;, relatou. O corpo do prisioneiro político seria sepultado às 19h de ontem (hora de Brasília), na cidade de Contramaestre, 900km a sudeste de Havana.
Em nota enviada à agência France-Presse por William Ostick, porta-voz para América Latina do Departamento de Estado norte-americano, o governo dos Estados Unidos lamentou a morte de Villar e classificou-o de ;valente defensor dos direitos humanos;. ;Os pensamentos e as orações do presidente Barack Obama estão com a mulher, a família e os filhos de Wilmar Villar;. ;A morte sem sentido de Villar destaca a repressão ao povo de cubano e a péssima situação enfrentada por indivíduos corajosos, que se levantam pelos direitos universais de todos os cubanos. Os EUA não vão renunciar no apoio à liberdade do povo cubano;, acrescenta o comunicado.
De acordo com Elizardo, ;toda a responsabilidade e a culpa recaem sobre o governo de Cuba;. ;O regime deixou Villar morrer. Somente quando faltavam seis dias para sua morte e quando a saúde dele piorou, levaram-no ao Hospital Clínico Cirúrgico de Santiago de Cuba. Mas a situação já era irreversível, e os médicos não conseguiram salvá-lo;, afirma o ativista de direitos humanos da CCDHRN. Elizardo acredita que o regime deveria ter prestado assistência médica a Villar nos seis primeiros dias do jejum, mas somente tomou uma providência nos últimos seis dias de vida do preso. Casado com Maritza Pelegrino, uma das chamadas damas de branco, Villar tinha dois filhos e era assíduo participante de atividades da dissidência.
Em 23 de fevereiro de 2010 ; um dia antes da chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Havana ;, o dissidente Orlando Zapata Tamayo morreu após 85 dias de jejum. Para Elizardo, as duas mortes são idênticas. ;Tamayo foi abandonado para morrer e, em sua greve de fome, lhe submeteram a duras condições de isolamento;, disse. Ele apela a Dilma que ;não incorra no erro de apoiar um regime totalitário;. ;Lamentavelmente, foi isso o que fez Lula: ele se distanciou dos cubanos, algo imperdoável.;
Blanca Reyes, integrante do grupo Damas de Branco, disse ao Correio que a morte de Villar deve ter efeito contraproducente para o regime. ;A oposição tende a se fortalecer. Os dissidentes deverão reagir à notícia com mais força ante tanta barbárie. Só há um responsável: o governo.; Segundo ela, Villar era muito contestador, apesar de bastante jovem.
Eu acho...
;O regime de Raúl Castro é totalmente culpado pela morte de Wilmar Villar, totalmente evitável. Somente em caso de abandono, alguém em greve de fome contrai pneumonia. Ele era um homem saudável, com apenas 31 anos;
Elizardo Sánchez Santacruz, fundador da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional de Cuba