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Pronunciamento de Obama e réplica da oposição dão a largada às eleições

Renata Tranches
postado em 26/01/2012 10:06
O ato foi presidencial, mas inaugurou o clima eleitoral de embate que Barack Obama e os opositores republicanos seguirão nos próximos 11 meses. No discurso sobre o Estado da União, o tradicional pronunciamento que os presidentes americanos fazem anualmente às duas casas do Congresso, Obama cortejou a classe média, ameaçou os inimigos e criticou os ricos, dizendo que todos devem jogar sob as mesmas regras. Ele não precisou citar nomes para mostrar que mandava um recado ao possível rival Mitt Romney, que no mesmo dia havia revelado recolher imposto de renda com alíquota muito inferior à maioria dos assalariados.

Em resposta, o Partido Republicano culpou o presidente por se engajar em uma disputa ;de classes;, e o próprio Romney classificou o pronunciamento como ;fora da realidade;. ;Fez lembrar a viagem (de Obama), há uma semana, quando ele falou da ;fantasilândia;;, em referência ao pronunciamento de Obama na Disney World, no qual o presidente anunciou medidas para impulsionar o setor turístico.

Equilibrando a postura de presidente e de candidato, Obama começou falando das conquistas de seu governo. Ressaltou a retirada das tropas do Iraque, a morte do terrorista Osama bin Laden e a abertura de mais de 3 milhões de postos de trabalho nos últimos dois anos, enquanto o país ainda se recuperava da crise econômica de 2008. A partir desse ponto, o foco foi no futuro. Ao se colocar como defensor do americano comum, do assalariado, da classe média, que ; assim como ele ; paga seus impostos sob as mesmas taxas, Obama tentou se distanciar de milionários como Romney, que baseiam suas fortunas em investimentos taxados a índices bem mais baixos. O presidente propôs que os milionários contribuam com no mínimo 30% da renda.

Conhecido pelos dotes de orador, Obama manteve tom firme e combativo ao se dirigir aos congressistas, com quem trava seguidas batalhas desde que perdeu a maioria na Câmara, em 2010. Ao tratar, por exemplo, da reforma migratória, uma de suas promessas de campanha em 2008, apontou a incapacidade do Congresso de chegar a um consenso para resolver a questão ainda este ano.

;Mas, se as intrigas políticas do ano eleitoral impedem o Congresso de formular um plano integral, ao menos concordemos em deixar de expulsar esses jovens responsáveis que desejam trabalhar;, disse, em referência a uma das leis previstas na reforma, chamada Dream Act.

Analistas políticos têm antecipado que atacar o Congresso seria uma das principais estratégias da campanha democrata, aproveitando os índices inéditos de baixa popularidade dos congressistas. Ao mesmo tempo, Barack Obama manteve tom conciliador e conclamou à união entre os partidos pelo bem do país.

Os ataques velados aos republicanos não tardaram a ser respondidos. O senador da Carolina do Sul, Jim DeMint, ao comentar o discurso em entrevista à rede de televisão CNN, afirmou que o presidente ;disse coisas bonitas, que eu adoraria aplaudir;, mas ponderou que o discurso de Obama ;não combina com nada do que tem feito nos últimos três anos;. O pré-candidato Romney fez a mesma crítica. ;Há três anos, medimos o candidato Obama por suas promessas e consignas de esperança. Hoje, o presidente Obama acumulou um recorde de dívida, deterioração e desilusão;, acusou o ex-governador de Massachusetts, que enfrenta um duro embate com o ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich pela indicação presidencial republicana.

Para o cientista político da Universidade Internacional da Flórida Nicol Rae, ex-conselheiro de vários congressistas, o discurso de Obama e as respostas da oposição deram o tom que deve prevalecer até as eleições, em 6 de novembro. ;Ele atacará os republicanos por serem muito distantes do americano comum. E eles o atacarão por promover uma disputa de classes;, afirmou, em entrevista ao Correio. ;É exatamente o que podemos esperar para os próximos meses. A campanha começou verdadeiramente.;

Na rede

Desde ontem, a Casa Branca abriu vários canais em suas contas nas redes sociais para que eleitores se manifestem e enviem perguntas sobre o discurso do Estado da União, o terceiro proferido por Obama. Nos próximos dias, o presidente visitará cinco estados que sua equipe de campanha considera críticos para a reeleição. O mote da recuperação econômica, que predominou no discurso aos congressistas, estará em voga em Iowa, no Arizona, em Nevada, no Colorado e em Michigan. Ao anunciar uma de suas propostas futuras, na terça-feira, Obama disse que criaria uma unidade para investigar práticas comerciais injustas e, assim, exercer mais pressão sobre a China.

Em geral, para o CEO da Câmara Americana de Comércio (Amcham), Luiz Gabriel Rico, o discurso de Obama e suas propostas se mostraram muito semelhantes a políticas de Dilma Rousseff. ;A linguagem dos dois governos é muito semelhante;, disse, acrescentando que há um clima muito favorável para a visita da presidente ao país, prevista para abril.

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