postado em 26/01/2012 10:09
Pela primeira vez em 20 anos, tropas dos Estados Unidos invadiram o território da Somália para libertar reféns de piratas somalis. Em uma operação conduzida pelos Seals, a unidade especial responsável pela captura do terrorista saudita Osama bin Laden, os militares libertaram uma cidadã norte-americana e um dinamarquês. Os dois agentes humanitários da organização Danish Demining Group (DDG) foram sequestrados em 25 de outubro a caminho do aeroporto de Galkayo, cidade ao norte do país. O presidente norte-americano, Barack Obama, autorizou a operação na última segunda-feira e, ontem, enviou um recado aos criminosos: ;Os EUA responderão com força contra qualquer ameaça à nossa gente;, assinalou, por meio de um comunicado divulgado pela Casa Branca.A operação foi realizada durante a madrugada de terça-feira, nas proximidades das aldeias de Iidoole e Higlale, a cerca de 100km de Galkayo. Antes de atacar os piratas, as forças de segurança norte-americanas cercaram o aeroporto, de onde partiram os helicópteros para a missão. Por volta das 3h (horário local), os moradores da região ouviram o barulho das aeronaves, que se aproximaram do cativeiro, após uma troca de tiros entre os militares dos EUA e os sequestradores. O Pentágono informou que nove piratas foram mortos durante a ofensiva e dezenas ficaram feridos. Não há indícios de que o grupo tivesse ligação com a organização terrorista Al-Shabaab, o braço da rede Al-Qaeda na Somália.
A operação libertou Jessica Buchanan, 32 anos, e Poul Hagen Thisted, 60. ;Na noite passada (terça-feira), eu falei com o pai de Jessica e disse a ele que todos os americanos estavam enviando seus pensamentos, orações e dando graças, porque ela, em breve, estaria reunida com sua família;, disse Obama ontem, um dia após o discurso sobre o Estado da União. ;Graças à extraordinária coragem e à capacidade de nossas forças de operações especiais, Jessica foi resgatada e está, agora, a caminho de casa;, completou o presidente. O governo dinamarquês, citado pelo site SomaliaReport, revelou que a operação foi motivada pelas condições de saúde da mulher. A norte-americana sofre de doença renal, algo confirmado pela organização humanitária para a qual ela trabalha.
Ousadia
A equipe responsável pelo resgate, o Comando Conjunto de Operações Especiais no Chifre da África, já estava realizando atividades de treinamento próximo à Somália. A incursão da tropa em território africano surpreendeu. ;Não acho que isso tenha significado estratégico. Mas mostra que os EUA não estarão comprometidos com a solução dos problemas em solo somali, e sim que apenas estarão coordenando ataques isolados;, disse ao Correio Joseph Siegle, diretor de pesquisa do Centro Africano de Estudos Estratégicos. A Somália enfrenta uma guerra civil há 20 anos, com disputas tribais e uma forte influência da insurgência islâmica.
Siegle e analistas afirmam que os ataques piratas na região só serão resolvidos com a assinatura de um acordo de paz entre as diferentes facções presentes por lá. ;O negócio dos sequestros envolve muito dinheiro; então, se você é um jovem somali sem perspectivas, parece atrativo envolver-se no crime;, explicou à reportagem o pesquisador John Norris, do Centro para o Progresso Americano. ;Ao longo das últimas duas décadas, a comunidade internacional gastou US$ 54 bilhões na região, e a pirataria tem sido um dos aspectos mais caros.;
O fim de uma era
Em 1; de maio do ano passado, a mesma tropa especial realizou uma incursão no interior do Paquistão e acabou com o principal pesadelo dos Estados Unidos. Por volta das 23h, a equipe de elite envolveu-se em uma troca de tiros com insurgentes da Al-Qaeda, entre eles, o então líder do grupo, Osama bin Laden, em Abbottabad. O terrorista acabou morto e, segundo a segurança da Casa Branca, teve o corpo lançado ao mar.