postado em 31/01/2012 09:00
O Partido Comunista de Cuba (PCC), única legenda com existência legal no país, corre atrás do tempo para garantir a sobrevivência. Comandado pelos veteranos da Revolução Cubana, boa parte deles com mais de 80 anos, o partido começou o ano aprovando medidas que revelam a urgência de renovação. A mais emblemática é a que determina a substituição de 20% dos membros do Comitê Central no prazo de quatro anos. Outra importante decisão tomada no fim de semana, durante a 1; Conferência Nacional do PCC, limita o mandato dos dirigentes ; também do Estado ; a dois períodos de cinco anos. Mesmo com as resoluções, as mais ousadas em cinco décadas de regime, analistas avaliam que o PCC terá dificuldade em formar líderes dispostos a manter a ilha da maneira como é hoje.A conferência se reuniu no sábado e no domingo, em Havana, com a participação de 811 delegados. No seleto grupo estão personagens históricos que já não ocupam cargos representativos no governo. Daí a decisão de renovar 20% da cúpula. ;Um ponto interessante da fala de Raúl Castro é que ele pretende preparar jovens apoiadores do regime. O problema é que há pouquíssimos jovens que se identificam com a velha guarda;, pondera Andy Gomez, pesquisador do Centro de Estudos Cubanos na Universidade de Miami. Além disso, o governo dos irmãos Castro já deu demonstrações de que não aceita qualquer candidato ao comando da nação.
;Todos (do PCC) são mais velhos e nunca foi fácil ser a terceira pessoa do regime;, observa Gomez. O especialista se refere à queda de Carlos Lage, eliminado da cúpula do partido quando começou a chamar muito a atenção por suas ideias, em 2008. Na conferência do fim de semana, Raúl Castro reforçou a existência da legenda comunista como a única legal no país. ;Abandonar o princípio do partido único seria simplesmente legalizar o partido ou os partidos do imperialismo e sacrificar a arma estratégica da unidade dos cubanos;, disse o presidente, no discurso de encerramento do encontro. ;Somente o partido, como instituição que agrupa a vanguarda revolucionária e a garantia segura da unidade dos cubanos, pode ser o digno herdeiro da confiança depositada pelo povo no único comandante e chefe da Revolução Cubana, o companheiro Fidel Castro Ruz;, exaltou, segundo o jornal oficial Granma.
A mensagem do presidente mantém os analistas céticos em relação às mudanças anunciadas pelo regime. ;Não há nenhum comprometimento do PCC, que continua valorizando a ideia errada de que a manutenção desse sistema fortalece a soberania;, critica Juan Del Aguila, especialista em política cubana na Emory University, em Atlanta. ;E, agora, a velha guarda está preocupada em saber o que acontecerá quando os irmãos Castro e os generais se forem. Eles não estão certos sobre a lealdade da próxima geração;, diz Aguila.
Colapso
Para o pesquisador, o regime um dia terminará, possivelmente de forma conflituosa. Aguila acredita que, em breve, os tecnocratas entrarão em choque com os militares, que constituem uma instituição poderosa. O professor Andy Gomez, da Universidade de Miami, pensa que a mudança poderá vir das ruas, como na Primavera Árabe. E o motor para isso não será a visita da presidente Dilma Rousseff, mas a do papa Bento XVI, que deve desembarcar em Havana no fim de março. ;Tudo vai depender do que ele fizer e disser. Se condenar os abusos dos direitos humanos ou se chamar as Damas de Branco para uma missa, pode incentivar a instabilidade.;
Trechos/Raúl Castro
; Nossos adversários e até alguns simpatizantes, abstraindo a história de permanente agressão, bloqueio econômico e cerco midiático, (;) nos exigem a restauração do modelo multipartidário que existiu em Cuba sob o domínio neocolonial dos EUA.
; A tarefa que nos cabe é promover uma maior democracia em nossa sociedade, começando dentro das fileiras do partido. (;) Precisamos todos nos acostumar a dizer as verdades de frente, olhando nos olhos, a discordar e discutir, discordar inclusive daquilo que dizem os chefes.
; A geração que fez a revolução teve o privilégio histórico de conduzir a retificação dos erros que ela própria cometeu. (;) Apesar de que já não somos tão jovens, não pensamos em desperdiçar esta última oportunidade.
; A sanção aos que participem de atos de corrupção não pode ser outra senão a expulsão do partido. (;) Não resta dúvida de que a enorme maioria dos cidadãos e dos quadros dirigentes é de pessoas honestas, mas sabemos que não basta sermos honrados e parecermos: é preciso lutar, enfrentar, passar das palavras aos atos.