Agência France-Presse
postado em 04/02/2012 20:13
Rússia e China vetaram neste sábado pela segunda vez no Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução que condena a repressão na Síria e que era apoiado pelos demais países do principal organismo de decisão das Nações Unidas.O novo veto sino-russo ocorre depois de a oposição síria informar a morte de mais de 230 civis entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado como consequência dos bombardeios à cidade de Homs.
Treze dos quinze países do Conselho votaram a favor do projeto proposto pelos países árabes e europeus, que apoiam um plano da Liga Árabe para assegurar uma transição para a democracia na Síria e que denuncia as "contínuas violações" dos direitos humanos cometidas pelo regime de Assad.
Mas Rússia e China (que ocupam duas das cinco vagas permanentes com direito a veto no Conselho) voltaram a votar contra o texto, como haviam feito em 5 de outubro.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, acusou a Rússia e a China de terem "abandonado" o povo sírio e encorajar a brutal repressão do regime de Assad e o embaixador francês na ONU, Gérard Araud falou em um "dia triste para o Conselho, para os sírios e para os amigos da democracia".
O novo projeto de resolução, que substitui outro mais duro, descartado de imediato pela Rússia, não pedia explicitamente que o presidente Bashar al Assad deixasse o poder.
Mas as concessões não foram suficientes para Moscou, tradicional aliado do regime de Damasco. O embaixador russo na ONU justificou o veto argumentando que o texto era "desequilibrado" e acusou as potências ocidentais de buscar unicamente uma mudança de regime em Damasco.
O chanceler Serguei Lavrov havia afirmado antes da reunião em Nova York que submeter o projeto à votação provocaria um "escândalo".
Moscou anunciou que Lavrov viajaria na terça-feira a Damasco para se reunir com al-Assad com o objetivo de "encontrar uma saída política para o conflito".
A secretária de Estado americana Hillary Clinton, disse em Munique (sul da Alemanha) que já era hora de o Conselho de Segurança da ONU atuar "com decisão" contra a Síria, antes de admitir que fracassou a tentativa de acertar as diferenças com a Rússia durante um encontro com Lavrov.
Depois de dez meses de violência na Síria em que, segundo a ONU, morreram mais de 5.400 pessoas, a comunidade internacional não consegue chegar a um acordo para deter a repressão no país.
No episódio mais mortífero desde o começo da revolta em março da revolta, mais de 230 civis, entre eles dezenas de mulheres e crianças, morreram entre a noite se sexta-feira e a madrugada de sábado em ataques a bomba por parte das forças do regime sobre Homs, bastião da revolta, denunciaram grupos de oposição.
"O bombardeio acabou nesta manhã (de sábado) e os habitantes saíram à procura de mortos e feridos sob os escombros", declarou por telefone Hadi Absdalá, um morador do bairro de Khaldiya, um dos mais afetados pelos bombardeios.
Os habitantes de Homs começaram a enterrar seus mortos, cujo número aumentou para 237, entre eles 99 mulheres e crianças, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido.
Os canais de notícias Al-Arabiya e Al-Jazeera exibiram imagens de dezenas de cadáveres espalhados nas ruas de Homs. Essa nova matança foi condenada por Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Espanha e pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
O presidente americano, Barack Obama, acusou o governo sírio de Bashar al-Assad de assassinar civis em um "ataque indescritível" na cidade de Homs e pediu sua renúncia.
Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, "lamentou profundamente" o duplo veto, que "incentiva o regime sírio a perseverar em sua política cruel e sem saída".
O ministro da Informação sírio, Adnan Mahmud, acusou a oposição de ter bombardeado a cidade de Homs (centro) para tentar influenciar o voto da resolução no Conselho de Segurança da ONU contra a repressão do regime sírio.
"As informações (...) sobre o bombardeio pelo exército sírio de bairros de Homs são falsas e sem fundamento. Ocorrem em um contexto de uma guerra de informação histérica (...) na previsão da reunião no Conselho de Segurança da ONU", declarou o ministro à AFP.
Na sexta-feira, milhares de sírios em todo o país homenagearam as milhares de pessoas que morreram há 30 anos em Hama (centro), durante a repressão da revolta da Irmandade Muçulmana pelo regime de Hafez al-Assad,pai do atual presidente.