Agência France-Presse
postado em 18/02/2012 15:40
Washington - Os Estados Unidos comemoram na segunda-feira o 50; aniversário do primeiro voo em órbita feito por um americano, mas a celebração tem um gosto um pouco amargo em um momento em que os conquistadores da Lua dependem da Rússia para realizar seus voos tripulados. Às 09h47 do dia 20 de fevereiro de 1962, e em sua décima primeira tentativa, o astronauta John Glenn decolava do Cabo Canaveral a bordo de um foguete Atlas. Glenn deu três voltas na Terra em um pouco menos de cinco horas.Cerca de um ano depois da primeira viagem ao espaço feita por um homem, o soviético Iuri Gargarin, o sucesso desta missão devolvia a confiança na corrida espacial aos Estados Unidos e transformava, da noite para o dia, seu protagonista em herói nacional. Cinquenta anos depois Glenn, de 90 anos, não esqueceu a dimensão política de sua façanha.
Os soviéticos "afirmavam naquela época que eram tecnicamente superiores a nós porque seus foguetes voavam, enquanto os nossos costumavam explodir no lançamento e que o sistema social deles também era superior ao nosso", disse o astronauta americano na sexta-feira à imprensa em Cabo Canaveral. "Naquela época se especulava muito sobre o papel que o comunismo podia ter no mundo. É nesse contexto competitivo da Guerra Fria que veio uma parte do incentivo para o programa (orbital) Mercury", explicou Glenn.
Scott Carpenter, que foi o segundo americano a orbitar a Terra no dia 24 de maio de 1962, lembra que os primeiros voos em órbita prepararam os primeiros passos do homem na Lua sete anos depois, em julho de 1969, nas mão dos americanos. "Esses voos mostraram ao país que apesar de estarmos atrasados em relação à União Soviética podíamos superá-la e fazer exatamente o que tinha ordenado (o presidente John) Kennedy, que era irmos à Lua antes dos russos", disse Carpenter, que estava com Glenn.
O passado faz os veteranos custarem a digerir a dependência atual dos astronautas americanos das naves russas Soyuz para ter acesso à estação espacial internacional (ISS, na sigla em inglês), desde que os transportadores do Tio Sam foram retirados em julho. "Não temos sistema de transporte para viajar da nossa estação espacial. Devemos ter contratos com os russos, por mais estranho que possa parecer para a maior nação espacial do mundo", disse Glenn.
O astronauta, que foi senador democrata de 1974 a 1999, acusa a administração do ex-presidente George W. Bush de sacrificar as ambições espaciais americanas cortando os fundos da NASA. "É uma pena. Espero que os esforços para recriar nosso próprio sistema tenham êxito", disse o ex-astronauta.
A NASA conta com o setor privado para desenvolver um sistema que substitua os transportadores antes de cinco anos. A companhia americana SpaceX deve efetuar um primeiro lançamento de teste a partir de 20 de março. Mas em um momento em que a China busca enviar homens à Lua, Scott Carpenter lamenta que os Estados Unidos tenham "perdido sua determinação".
"Quando John e eu trabalhávamos para o país com a NASA, os Estados Unidos eram considerados uma nação onde tudo era possível", disse. "Nos transformamos em um país onde nada é possível e lamento profundamente", acrescentou.