Agência France-Presse
postado em 18/02/2012 15:43
Roma - O brasileiro João Braz de Aviz, único latino-americano que recebeu neste sábado o título de cardeal, espera que o Colégio Cardinalício seja mais "universal" e pede à Europa e aos Estados Unidos que desçam do pedestal e "voltem seus olhares" para a América Latina. Em uma entrevista à agência de notícias católica I-Media, o novo cardeal, de 64 anos, próximo ao movimento italiano dos Focolares, que representa no novo Colégio Cardinalício o país mais católico do mundo, convidou seus colegas a reconhecerem que o mundo mudou."Na América Latina e em outras partes temos que admirar a grande história da Europa, sua beleza. Mas a Europa, por sua vez, deve descer das alturas e ter uma atitude fraternal com os outros continentes e deixar de olhar os demais de cima para baixo", assegurou. "Isso de um ponto de vista católico e econômico, mas também dentro da Igreja", disse.
"Não podemos deixar de levar em conta que América Latina, Ásia e África mudaram e continuar pensando que são colônias ou do Terceiro Mundo", acrescentou. O novo cardeal, que recebeu na Basílica de São Pedro junho com outros 21 colegas das mãos do papa Bento XVI o título cardinalício, há mais de um ano é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e é responsável por cerca de 800 mil religiosos e religiosas espalhados pelo mundo.
O ex-arcebispo de Brasília, que confessou que tem no corpo 130 fragmentos de chumbo devido a um tiroteio ocorrido há 30 anos, é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia da libertação". Para o brasileiro, a corrente teológica latino-americana que surgiu na década de 60 contra a opressão e a favor da luta dos mais desfavorecidos foi "útil" e até "necessária", porque deixou que a Igreja descobrisse a "opção preferencial pelos pobres", sustenta o site.
A designação de diversos cardeais provenientes da Europa, em particular da Itália, o que pesaria em caso de conclave ou eleição de Papa, já que o continente contaria com 30 cardeais sobre 125, desencadeou polêmicas devido ao "eurocentrismo" do Papa alemão, que, para vários observadores, está preparando sua sucessão. Interrogado sobre o desequilíbrio que existe no órgão diretor da Igreja, o novo cardeal considerou que "quando mais universal for o Colégio Cardinalício, melhor ele representa a Igreja".
"Trabalhamos muito para conseguir isso e seguiremos agindo. A Igreja é tão original, tão unida e, ao mesmo tempo, tão cheia de diferenças", comentou.