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Manifestantes afegãos acusam soldados dos EUA de queimarem Alcorão

Agência France-Presse
postado em 21/02/2012 14:40
Bagram - Milhares de afegãos se manifestavam violentamente nesta terça-feira diante da maior base americana do Afeganistão, perto de Cabul, acusando as tropas estrangeiras de terem queimado exemplares do Alcorão. Milhares de pessoas se concentraram diante da base da Bagram, 60 km ao norte da capital, informou um fotógrafo da AFP.

O comandante em chefe da Força Internacional para o Afeganistão da Otan (Isaf), o general americano John Allen, apresentou suas "desculpas" ao "nobre povo do Afeganistão" depois de informações indicando que "soldados da base de Bagram descartaram de forma incorreta um grande número de documentos islâmicos, incluindo exemplares do Alcorão".

O general Allen não confirmou, no entanto, se foram queimados exemplares do livro sagrado, como assegura a polícia afegã, mas ordenou uma investigação. "Tivemos conhecimento destes atos, interviemos imediatamente e os prendemos. Os documentos recuperados serão entregues imediatamente às autoridades religiosas competentes", acrescentou o general Allen.

As profanações do livro sagrado do Islã, ou outros atos considerados como uma blasfêmia pelos muçulmanos por parte de soldados estrangeiros, que ocorrem frequentemente no Afeganistão, desencadeiam sistematicamente manifestações violentas. "Há ao menos 2 mil pessoas, protestam porque foram queimados exemplares do Alcorão no interior da base", declarou à AFP um oficial da polícia. Sediq Sediqqi, porta-voz do ministério do Interior, confirmou o protesto e acrescentou que foram enviados reforços a Bagram para prevenir qualquer excesso de violência.

Outra concentração de cerca de 500 pessoas ocorreu em Cabul, perto das principais bases da Otan na capital, na estrada de Jalalabad, mas já havia sido dispersada no fim da manhã (hora local), declarou à AFP o porta-voz da polícia, Ashamat Estanakzai. "Investigamos com profundidade este incidente e tomaremos as medidas necessárias para garantir que isto não voltará a ocorrer. Garanto a vocês (...) e prometo (...) que este ato não era intencional", indica o comunicado do general Allen. "Queria agradecer aos afegãos que nos ajudaram a descobrir este erro e ajudaram imediatamente a corrigi-lo", conclui o texto, cuja franqueza parece querer limitar excessos que poderiam ocorrer durante a noite.

As ofensas ao Islã, às tradições afegãs ou simplesmente às regras elementares de conduta por parte das tropas da Otan são relativamente frequentes no Afeganistão. No início de janeiro, um vídeo de quatro marines americanos urinando sobre os cadáveres de supostos talibãs foi colocado na internet e gerou uma enorme polêmica, embora não tenha provocado nenhuma manifestação no Afeganistão. Alguns dias depois, um militar afegão que matou quatro soldados franceses e feriu outros 15 justificou seu ato pelo ocorrido no vídeo.

Outras imagens, que mostram soldados britânicos pedindo que crianças afegãs tocam seus órgãos genitais através da roupa também "enojaram" o governo afegão, mas não perturbaram a ordem pública.

Em abril de 2011, dez pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em manifestações durante vários dias depois que o pastor americano Terry Jones queimou um exemplar do Alcorão na Flórida.

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