Agência France-Presse
postado em 21/02/2012 17:03
Bagram - Milhares de afegãos protestavam nesta terça-feira (21/02) diante da maior base americana no Afeganistão, perto de Cabul, acusando as tropas estrangeiras de terem queimado exemplares do Alcorão.Milhares de pessoas se concentraram diante da base da Bagram, 60 km ao norte da capital. Quando a multidão gritava "morte aos americanos" ou "morte aos infiéis", os guardas da base atiraram contra eles com balas de borracha, constatou um fotógrafo da AFP, que foi atingido por um destes projéteis no pescoço.
O comandante em chefe da Força Internacional para o Afeganistão da Otan (Isaf), o general americano John Allen, pediu "desculpas" ao "nobre povo do Afeganistão" depois de informações indicando que "soldados da base de Bagram descartaram de forma incorreta um grande número de documentos islâmicos, incluindo exemplares do Alcorão".
O general Allen não confirmou, no entanto, se foram queimados exemplares do livro sagrado, como assegura a polícia afegã, mas ordenou uma investigação.
O fotógrafo da AFP conseguiu ver exemplares do Alcorão com as bordas queimadas que funcionários afegãos da base afirmaram ter salvado da destruição.
"Tivemos conhecimento desses atos, interviemos imediatamente e os prendemos. Os documentos recuperados serão entregues imediatamente às autoridades religiosas competentes", acrescentou o general Allen.
"Investigamos com profundidade este incidente e tomaremos as medidas necessárias para garantir que isto não voltará a ocorrer. Garanto a vocês (...) e prometo (...) que este ato não era intencional", indica o comunicado do general Allen.
Outra concentração de cerca de 500 pessoas foi realizada em Cabul, perto das principais bases da Otan na capital, na estrada de Jalalabad, mas já havia sido dispersada no fim da manhã (hora local), declarou o porta-voz da polícia, Ashamat Estanakzai.
O presidente afegão, Hamid Karzai, condenou energicamente a "queima de exemplares do Alcorão por parte de soldados americanos na base militar de Bagram" e pediu a uma comissão de autoridades religiosas que "investigue" o ocorrido.
Para os talibãs, "desde que os americanos invadiram o Afeganistão, é a décima vez que realizam uma ação assim de selvageria para profanar as sagradas crenças dos muçulmanos de todas as partes do mundo".
Em um comunicado, os insurgentes convocaram "as organizações de direitos humanos a intervirem para prevenir este tipo de ato".
As ofensas ao Islã, às tradições afegãs ou simplesmente às regras elementares de conduta por parte das tropas da Otan são relativamente frequentes no Afeganistão.
No início de janeiro, um vídeo de quatro marines americanos urinando sobre os cadáveres de supostos talibãs foi colocado na internet e gerou uma enorme polêmica, embora não tenha provocado nenhuma manifestação no Afeganistão.
Alguns dias depois, um militar afegão que matou quatro soldados franceses e feriu outros 15 justificou seu ato pelo ocorrido no vídeo.
Outras imagens, que mostram soldados britânicos pedindo que crianças afegãs tocam seus órgãos genitais através da roupa também "enojaram" o governo afegão, mas não perturbaram a ordem pública.
Em abril de 2011, dez pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em manifestações durante vários dias depois que o pastor americano Terry Jones queimou um exemplar do Alcorão na Flórida.