Agência France-Presse
postado em 24/02/2012 13:47
Cabul - Pelo menos oito pessoas - sete civis e um policial afegão - foram mortos nesta sexta-feira (24/2) em Herat (oeste) e Baghlan (nordeste) em protestos contra os Estados Unidos, após a queima de exemplares do Alcorão em uma base americana neste país, apesar dos apelos por calma. Estas mortes elevam para 23 o número de vítimas em quatro dias de manifestações, de acordo com uma contagem da AFP. Além disso, uma centena de pessoas ficaram feridas, a maioria por bala.A maior parte das vítimas desta sexta-feira são da província de Herat, habitualmente uma das mais calmas do país, onde sete pessoas, entre elas um policial e uma mulher, morreram "durante trocas de tiros", declarou à AFP Moheedin Noori, um porta-voz local. Três entre eles, incluindo o policial, morreram em confrontos quando manifestantes tentaram atacar o consulado dos Estados Unidos, acrescentou Noori. "A ação foi muito violenta perto do consulado americano. Ocorreram confrontos. Alguns manifestantes tentaram tomar as armas dos policiais. Houve tiros", informou uma fonte da segurança à AFP.
As manifestações começaram depois da oração de sexta-feira, na qual um imã de Cabul incentivou os fieis a saírem às ruas para protestar contra a profanação do livro do Santo Islã. Na noite de segunda-feira para terça-feira, exemplares do Alcorão, confiscados de presos da maior base americana no Afeganistão, em Bagram, 60 km ao norte de Cabul, foram incinerados porque, segundo autoridades americanas, serviam para esconder mensagens entre prisioneiros.
O presidente americano Barack Obama enviou uma carta de "desculpas das mais sinceras" ao povo afegão pelo "erro", cometido por "inadvertência" e por "ignorância". Uma delegação nomeada pelo governo, composta principalmente por personalidades religiosas e que irá investigar o caso, pediu na quinta-feira à noite que os "cidadãos muçulmanos afegãos não recorram aos protestos, que pode permitir ao inimigo (insurgentes) se aproveitar da situação".
O sentimento anti-americano nunca foi tão forte entre a população em 10 anos de conflito. Um sentimento que se prolifera por causa das ações da Otan que mata civis com relativa frequência e que está envolvida em vários casos recentes de profanação ou outros atos considerados blasfemos. Em Cabul, vários estrangeiros, desde quinta-feira, obedecem as conselhos de segurança e não saem de casa.
A restrição de movimento das pessoas expatriadas é justificada pelo precedente incidente de Mazar-i-Sharif (norte), onde sete funcionários expatriados da ONU foram massacrados em seus escritórios no início de abril, após a queima pública de um Alcorão por um pastor extremista americano nos Estados Unidos. Era uma sexta-feira.