Agência France-Presse
postado em 26/02/2012 15:39
Cabul - Dois oficiais americanos foram mortos neste sábado dentro do Ministério do Interior depois de uma discussão com um de seus colegas afegãos relacionada à questão dos exemplares do Alcorão queimados na terça-feira em uma base americana, enquanto as manifestações anti-americanas perdiam força.Os dois ocidentais "chamaram o Alcorão de livro ruim na presença (de seu colega afegão). Eles discutiram. Depois, ele ficou nervoso e atirou", de acordo com uma fonte governamental que pediu para não ser identificada.
"Naquele dia, eles assistiam a vídeos de manifestações em Cabul. Os conselheiros faziam piadas com os manifestantes, os insultavam", contou a fonte, acrescentando que os americanos tinham "ameaçado" seu colega afegão.
"Oito balas foram encontradas perto dos dois corpos", que foram encontrados uma hora após os fatos, em um local onde não foi possível ouvir os barulhos na parte externa, explicou a fonte governamental, indicando que essas informações tinham sido obtidas graças, em grande parte, à observação de vídeos captados pelas câmeras do circuito de segurança interno.
Procurada pela AFP, a Isaf, força armada da Otan no Afeganistão, da qual as duas vítimas eram conselheiras, respondeu que sua "investigação está em andamento".
"De acordo com uma investigação policial inicial, o suspeito é um dos funcionários do ministério. Ele fugiu. O ministério investiga seriamente este caso", indicou o comunicado do Ministério do Interior.
Segundo a Tolo news, principal rede de notícias afegã, o homem procurado chama-se Abdul Saboor, de 25 anos. O suspeito, que estudou no Paquistão, entrou para o ministério em 2007 como motorista, antes de ser treinado, promovido e passar a trabalhar como policial no ministério, segundo a rede.
"Na noite passada, a polícia vasculhou a casa de Saboor, em Salang (nordeste). Eles revistaram sua casa, mas não o encontraram. Sua mãe e várias crianças estavam presentes", declarou à AFP Abdul Shukoor Fedawi, chefe da polícia do distrito de Salang.
Os talibãs reivindicaram o assassinato dos conselheiros por "um herói", que chamam de Abdul Rahman, um "combatente" que agiu "em reação à falta de respeito dos invasores com os objetos sagrados do Islã", principalmente após "a incineração de exemplares do Alcorão na base de Bagram".
"Ainda é cedo demais para estabelecer uma ligação" entre a morte dos dois oficiais da Otan e a queima dos exemplares do Alcorão, comentou a Isaf.
Após o ataque, o general John Allen, que comanda a Isaf, decidiu "chamar todo o pessoal" da força armada da Otan que trabalha nos ministérios afegãos.
Reino Unido, Alemanha e França decidiram no sábado e neste domingo fazer o mesmo para limitar os riscos aos quais estão submetidos os seus agentes civis e militares.
"Não deixaremos este incidente dividir a coalizão", reagiu no Twitter neste domingo Jimmie Cummings, porta-voz da Isaf, assegurando que "embora tenham retirado dos ministérios os conselheiros militares (da Isaf) permanecem em contato com o pessoal ministerial".
Neste domingo, as manifestações anti-americanas perderam intensidade, com o distrito de Imam Sahib, na província de Kunduz (norte) concentrando quase todos os episódios de violência no país.
Sete americanos membros das forças especiais ficaram feridos quando manifestantes jogaram uma granada em uma base da Otan nesse distrito, de acordo com um porta-voz da polícia de Kunduz, enquanto que uma pessoa morreu e outros sete civis ficaram feridos na mesma região, indicaram fontes médicas.
Uma outra marcha, na província vizinha de Samagan (norte), terminou com dois feridos, indicou à AFP o governador desta província, Khairullah Anosh.
As novas vítimas elevam o registro das manifestações anti-americanas para 30 mortos e cerca de 200 feridos, no dia em o presidente Hamid Karzai lançou um apelo à calma em rede de televisão.