Agência France-Presse
postado em 01/03/2012 15:15
Síria - Abu Mahmud, de 27 anos, relata com voz monótona os quatro anos que passou nos cárceres do presidente sírio Bashar al-Assad, descrevendo um universo similar ao de campos de concentração com prisões arbitrárias, torturas incessantes e condições de vida atrozes.Este homem barbudo, libertado há três meses por causa das medidas do governo para acalmar a insurreição, não quis ser fotografado e nem deu o seu verdadeiro nome por precaução. Ele acredita que a vitória da revolução ainda está longe.
[SAIBAMAIS]Ele conta que no final de 2007 50 policiais chegaram durante a noite. ;Eu tinha 22 anos, estudava matemática na Universidade de Homs".
Ninguém explicou os motivos de sua prisão. Desta forma começaram seis semanas de torturas diárias. "Eu ficava com os olhos vendados, as mãos amarradas, cabos elétricos conectados em meu corpo. Ligavam a eletricidade e batiam o cabo na planta dos meus pés", afirmou.
Os torturadores duvidavam de minha culpabilidade, disse Abu Mahmud. "Nas primeiras semanas não me fizeram nenhuma pergunta, só me torturaram", acrescentou. Três anos depois me disseram que eu era acusado de "pertencer a uma organização secreta que queria derrubar o governo".
As sessões de tortura diminuíram, mas as condições de vida eram terríveis. Em um centro secreto de Damasco, onde ficou por dois dias, eram 28 pessoas em uma cela de 6m;. ;A gente se revezava. Enquanto nove dormiam, nove ficavam abaixados e nove de pé".
Em seguida foi transferido para Sednaya, um estabelecimento para presos políticos. "No primeiro dia me bateram com cabos nas pernas. No segundo dia rasparam minha cabeça e me bateram de novo", acrescentou.
Depois foi transferido para outra cela: 34 pessoas em 40m;. Foi o fim das torturas. "Salvo quando criávamos problemas: se rezávamos, se falávamos alto...", relata. Segundo vários testemunhos reunidos por organizações não governamentais, a tortura está institucionalizada na Síria.