Agência France-Presse
postado em 05/03/2012 15:29
Bruxelas - A volta de Vladimir Putin ao Kremlin não vai comprometer as relações entre Moscou e os países ocidentais imediatamente, mas o oeste pode e deve ter um papel mais ativo para facilitar a abertura da Rússia, acreditam os especialistas.
O constrangimento era claro nesta segunda-feira (5/3) nas capitais após a vitória de Putin no primeiro turno da eleição presidencial de domingo.[SAIBAMAIS]
A chanceler Angela Merkel foi a única a reagir nesta manhã (5/3), manifestando seus "votos" de sucesso e desejando o desenvolvimento da parceria estratégica entre a Alemanha e a Rússia.
O tom foi mais prudente entre os demais atores internacionais, principalmente em Bruxelas, onde a União Europeia se contentou em ressaltar a "clara vitória" de Putin, expressando suas preocupações quanto às irregularidades reveladas por observadores internacionais.
Independentemente das condições, "a vitória de Putin não muda nada para ninguém", afirma François Heisbourg, presidente do International Institute for Strategic Studies (IISS).
"Os países ocidentais vão enfrentá-lo diretamente, sem mediação" depois de um período intermediado por Dmitri Medvedev, que representou a Rússia no exterior durante quatro anos. "De certa forma, isso vai simplificar as coisas, pois, com Putin, eles sabem como lidar", ressalta Heisbourg.
Esta divisão do trabalho convinha a Putin, que "não gosta de relações internacionais e de viagens oficiais", e "estava muito feliz em delegar essas tarefas a Medvedev", acredita Jan Techau, diretor do Centro Carnegie Europa.
Contudo, para vários especialistas, Putin já não está na mesma posição em que se encontrava nos seus outros dois mandatos de presidente, entre 2000 e 2008. "Ele é muito contestado e a sua legitimidade está manchada", segundo Techau.
Neste contexto, "ele pode tentar endurecer seu discurso com os ocidentais para provar à opinião pública que ele não enfraqueceu, sem modificar a base da política externa", estima Heisbourg.
Para Techau, este endurecimento é uma possibilidade, mas Putin pode escolher o contrário, e acalmar o Ocidente. Porque, em nível nacional, ele "precisa demonstrar que a Rússia está se modernizando. E para isso, precisa de investidores ocidentais".
Suas táticas para pressionar o Ocidente, de fato diminuíram nos últimos anos, particularmente no campo da energia, já a Europa tomou medidas para evitar ser pega desprevenida.
Os europeus "têm uma tendência a acreditar, erroneamente, que a UE é mais dependente da Rússia do que a Rússia é da UE", observa James Nixey, do Instituto Chatham House.
Nixey pede aos 27 países que definam uma política comum em relação a Moscou, que prefere "discutir com as capitais, em vez de instituições como a UE", o que permite aos russos "negociar com quem deseja e ignorar os outros". Sua preferência está voltada para a Alemanha, muito ativa nos grandes setores industriais russos.
Quanto aos Estados Unidos, que possuem uma "obsessão" pelo Kremlin maior do que pela Europa, devem se concentrar em "uma política equilibrada entre a firmeza e a segurança que não buscam enfraquecer a Rússia", afirma Techau.
No momento, Moscou deve continuar a enfrentar os ocidentais sobre a questão da Síria, embora tenha mostrado sinais de abrandamento na semana passada. Putin "continuará a ser duro enquanto Bashar al-Assad tiver capacidade de permanecer no poder", acredita Heisbourg.
Mas Moscou deve tentar se reaproximar dos países árabes que "são importantes, particularmente em termos de contratos", segundo Techau.
Uma reunião entre Rússia e países árabes sobre a Síria está prevista para acontecer no dia 10 de março, no Cairo.