Agência France-Presse
postado em 06/03/2012 08:29
Beirute - O Exército sírio bombardeou nesta terça-feira (6/3) uma ponte perto de Qusseir, na província de Homs (centro), pela qual transitam os sírios, em particular os feridos, que fogem para o Líbano em busca de refúgio, denunciou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). A ponte, que fica muito perto da fronteira libanesa, cruza o rio Orontes, de 450 km de comprimento, que nasce no Líbano e desemboca no Mar Mediterrâneo, depois de atravessar o noroeste da Síria e da Turquia."A artilharia bombardeou a ponte pela qual foi retirada da Síria a jornalista Edith Bouvier e todos os feridos", declarou Hadi Abdallah, militante da Comissão Geral da Revolução Síria na cidade de Homs. "Esta é a principal rota pela qual transitam os feridos", acrescentou Abdalá.
Mais de 1.500 sírios, em sua maioria mulheres e crianças, buscaram refúgio no Líbano nas últimas 48 horas para fugir da violência, em particular na região de Homs. "Quase 170 famílias chegaram nos últimos dois dias a El Fakha, na região de Bekaa, leste do Líbano", afirmou à AFP Dana Sleiname, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) no Líbano. "Além disso, outras 50 famílias se instalaram em Aarsal, na mesma região", completou Sleiname. "São na maioria mulheres e crianças. Entregamos cobertores, colchões e kits de higiene", completou a porta-voz do Acnur.
Ahmad Mussa, porta-voz do Comitê dos Refugiados Sírios no Líbano, confirmou a chegada de dezenas de famílias ao Líbano nas últimas 48 horas. "Dezenas de famílias entraram nas últimas 48 horas no Líbano através de Bekaa estão em El Qaa e Aarsal", declarou Mussa. "Outras 65 famílias chegaram na segunda-feira ao norte do Líbano, procedentes de Homs e Qusseir".
Segundo o Acnur, 7.058 refugiados sírios foram registrados no Líbano desde o início da rebelião contra o regime de Bashar al-Assad. Além do bombardeio da ponte nesta terça-feira, o OSDH denunciou ainda um grande ataque das forças sírias contra a cidade de Hirak, na província de Deraa, berço da rebelião contra o regime de Bashar al-Assad no sul do país. "Importantes forças militares, que incluem tanques e veículos de transporte blindados, lançaram um ataque contra a cidade de Hirak", afirma um comunicado da ONG. A nota também destaca um reforço do cerco à localidade de Tibet al-Iman, na província de Hama.
Depois da tomada do bairro de Baba Amr, em Homs, na semana passada, as forças do regime intensificaram a pressão sobre os outros redutos do Exército Sírio Livre (ESL), particularmente Rastan, a 20 km de Homs, que foi declarada cidade livre em 5 de fevereiro.
Nesta terça-feira, as autoridades sírias anunciaram que encontraram um avião de reconhecimento em uma fábrica de armas em Baba Amr, similar aos utilizados por Israel, assim como câmeras de vigilância, foguetes e obuses.
A agência Sana informou que também foram localizados túneis subterrâneos utilizados pelos terroristas. Depois de Homs, a cidade de Rastan é submetida a um intenso bombardeio pelo Exército do regime de Assad.
"O que está acontecendo em Rastán é idêntico ao que ocorreu em Baba Amr: bloqueio, tiros de artilharia e foguete. Os combatentes do ESL estão em Rastan e não cederão facilmente, pois ninguém quer um segundo Baba Amr", afirmou Hadi Abdallah, militante em Homs da Comissão Geral da Revolução Síria.
Outra cidade da província de Homs, Qusseir, controlada pelos rebeldes, também está sendo bombardeada. "Resistiremos. É uma questão de vida ou morte. Vamos resistir com todas as nossas forças. O mundo inteiro nos abandonou, mas não abandonaremos a revolução", afirmou o militante Anas Abu Ali.
No plano diplomático, o governo sírio segue submetido a uma intensa pressão. O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan pediu nesta terça-feira (6/3) a autorização imediata para a abertura de corredores humanitários para as populações civis vítimas da violência no país vizinho.
"Os corredores na Síria para o envio de assistência humanitária devem ser abertos imediatamente", declarou aos deputados do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, saído da corrente islâmica), antes de estimular a comunidade internacional a exercer pressões a este respeito sobre Damasco.
Os países ocidentais aproveitaram a vitória de Vladimir Putin na eleição presidencial de domingo para pedir que a Rússia modifique sua posição de apoio à Síria. O vice-ministro russo das Relações Exteriores respondeu, no entanto, que o novo projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU, que está sendo discutido em Nova York, "não é equilibrado".
Rússia e China já vetaram duas resoluções de condenação à Síria, onde segundo a ONU a violência provocou a morte de 7.500 pessoas. Além de Annan, a diretora de operações humanitárias da ONU, Valerie Amos, também viajará à Síria e disse que tentará obter um acesso "sem obstáculos".
A Cruz Vermelha Internacional continuava negociando, pelo quinto dia consecutivo, a entrada de um comboio de ajuda urgente no bairro de Baba Amr, da cidade de Homs, tomado em 1; de março pelas forças de Assad.