Agência France-Presse
postado em 09/03/2012 16:23
Buenos Aires - O romance dos argentinos com a presidente Cristina Kirchner começou a mostrar desgaste no 100; dia de seu segundo mandato, com sinais de um mau humor social potencializado por um impactante acidente ferroviário com 51 mortos, disseram analistas à AFP.A imagem de Kirchner sofreu uma queda acentuada desde o início de seu segundo mandato, no dia 10 de dezembro, após sua vitória eleitoral com 54% dos votos em outubro. Segundo analistas, sua popularidade foi atingida pela tragédia ferroviária somada aos aumentos de impostos e à inflação persistente. "O freio da economia, episódios como a tragédia ferroviária, as denúncias de corrupção e o aumento dos impostos podem influenciar significativamente a imagem da presidente", assegura à AFP Rosendo Fraga, da consultora Nueva Mayoría.
A socióloga e analista Graciela Rommer concorda: "no momento em que o mau humor parece aumentar, a inflação alta, as denúncias de corrupção e o recente acidente ferroviário formam uma combinação altamente perigosa para a imagem do governo".
Em meio à crise econômica internacional, o governo cortou os subsídios aplicados ao serviço público. Apesar disso, a inflação não cai. Em 2011 foi de 9,5%, de acordo com as medições oficiais.
A mira está voltada para parte da classe média que contribuiu com a eleição de Kirchner, beneficiada por uma bonança econômica com um promissor crescimento anual de 9% desde 2003, à exceção de 2009, mas que não tem uma identificação ideológica com o governo. "De 54% dos votos, pelo menos 20 pontos vieram de uma classe média que votou nela por causa da situação econômica e pela falência da oposição", opina Rommer.
Para o especialista Jorge Giacobbe, "o núcleo central dos eleitores kirchneristas está em estado de alerta", considerando que isso ocorre no momento em que se percebe que "a capacidade do governo em resolver problemas se deteriorou", afirma à AFP. Foi observada "uma queda de oito pontos na imagem positiva da presidente nos últimos 40 dias, o que a deixa na faixa dos 50 pontos. Existe uma percepção de que entramos em uma fase de problemas mais complexos", indicou.
Neste contexto, o CTERA, forte aliado do governo, realizou esta semana a primeira greve por aumentos salariais na era do kirchnerismo, iniciada em 2003.
No plano trabalhista, a presidente iniciou outro conflito com Hugo Moyano, líder da poderosa central sindical CGT, que possui oito milhões de trabalhadores e que até o ano passado era um dos pilares de apoio ao governo.
Fraga acredita que para enfrentar esta situação, "o governo acentuará sua política nacionalista, com a ;malvinização; de sua política exterior e a eventual nacionalização da YPF", petrolífera hispano-argentina controlada pela espanhola Repsol.
A menos de um mês do 30; aniversário da guerra entre a Argentina e Grã-Bretanha pela posse das Ilhas Malvinas, o governo intensificou sua ofensiva diplomática pela reivindicação da soberania no arquipélago, ocupado pela Grã Bretanha desde 1833.
O governo também uma grande disputa com a companhia YPF, privatizada nos anos 1990, e que é questionada por não investir o suficiente nos últimos anos. "Existe uma confiança muito grande na presidente. Em situações como a tragédia ferroviária, o que a sociedade exige é que o Estado assuma um papel mais ativo em todas as áreas", afirma a especialista Doris Capurro. A consultora fez alusão ao descontentamento quanto ao deficiente funcionamento dos serviços, após a massiva privatização de empresas nos anos 1990, algumas delas reintegradas ao sistema estatal. Capurro admite que "pode haver uma pequena mudança no clima social" por causa do acidente de trem, mas considera que a popularidade de Cristina Kirchner "continua muito sólida com uma imagem positiva entre 60 e 64%".