Agência France-Presse
postado em 14/03/2012 20:08
Afeganistão - O secretário americano de Defesa, Leon Panetta, admitiu nesta quarta-feira (14/3) durante visita ao Afeganistão, onde dois atentados deixaram nove mortos, que o caso dos livros queimados do Alcorão e a matança de civis por soldados americanos "são profundamente inquietantes".Panetta aterrissou durante a manhã no Afeganistão para uma visita de dois dias, avaliando que estes incidentes não afastarão os Estados Unidos de sua missão: vencer a revolta dos talibãs e seus aliados da Al-Qaeda.
O secretário de Defesa iniciou sua visita por Camp Bastion, base militar da província de Helmand, vizinha à Kandahar, onde ocorreu o massacre de 16 civis no domingo, o caso mais grave em que esteve envolvido um soldado americano no Afeganistão em dez anos de conflito.
O sul do Afeganistão é um dos principais redutos dos rebeldes talibãs, que juraram vingar as vítimas da tragédia.
Panetta se reuniu primeiro com autoridades tribais da região, a quem tentou tranquilizar após o massacre de domingo, um ato isolado, segundo Washington.
Estas conversas foram "excelentes", segundo o porta-voz do Pentágono, George Little, mas ficaram imediatamente em segundo plano por um atentado cometido em uma estrada de Helmand em que nove civis morreram, segundo as autoridades locais.
"O secretário Panetta disse que os Estados Unidos ficarão concentrados em sua missão e que os acontecimentos recentes não nos dissuadirão de levá-la a bom termo", acrescentou Little.
Panetta falou depois às tropas americanas na base de Camp Leatherneck, onde os soldados que foram escutá-lo foram forçados a deixar suas armas na entrada do recinto, quando normalmente as conservam consigo frente ao secretário de Defesa.
Primeiro Panetta evocou a queima de exemplares do Alcorão em uma base americana, no fim de fevereiro, que provocou uma onda de manifestações antiamericanas no pais e que deixaram mais de 40 mortos. Em seguida, falou sobre a matança de domingo.
"Cada um destes acontecimentos é profundamente inquietante", avaliou o líder do Pentágono. Mas "não deixaremos que atos individuais minem nossa determinação" na guerra da força internacional liderada pelos Estados Unidos contra os rebeldes talibãs, continuou.
Horas depois, a força da Otan (Isaf) anunciou que um soldado da coalizão internacional ficou ferido em um "incidente" que ocorreu quando o avião de Panetta aterrissou em Camp Bastion.
"Em nenhum momento o secretário ou outro ocupante do aparelho estiveram em risco por este incidente", declarou a Isaf em um comunicado publicado em Cabul. "O suposto autor" da ação em que um soldado ficou ferido foi detido, acrescentou.
Segundo uma fonte governamental em Londres, um veículo entrou na pista de aterrissagem da base britânica de Camp Bastion e se incendiou quando o avião aterrissava. O motorista, aparentemente um funcionário local da base, ficou "gravemente queimado", disse a fonte.
Depois de sua visita a Helmand, o secretário da Defesa viajou para Cabul, onde deve se reunir nesta quinta-feira com o presidente Hamid Karzai.
A multiplicação de incidentes que implicam soldados americanos nos últimos meses (massacres, livros queimados do Alcorão, vídeo mostrando soldados urinando sobre cadáveres, ataque de soldados afegãos contra eles) alimentaram fortes tensões entre Washington e o governo de Cabul, o qual mantém em pé desde 2001, diante da rebelião dos talibãs.
Isto complica as negociações, já difíceis, em curso entre Washington e Cabul sobre as modalidades da presença americana no Afeganistão depois de 2013, quando as forças da Otan (Isaf), chefiadas pelos Estados Unidos preveem a retirada de todas as tropas de combate do país.
Por volta do meio-dia, um atentado com moto-bomba matou pelo menos uma pessoa e feriu outras duas, todos membros do serviço secreto afegão, em Kandahar, capital da província de mesmo nome, segundo as autoridades locais.
A cidade fica a dezenas de quilômetros do distrito de Panjwayi, onde ocorreu a matança de domingo que os talibãs juraram vingar.
Um pouco mais tarde, oito civis morreram na explosão de uma bomba colocada em uma estrada em Helmand, segundo as autoridades locais.
Nesta quarta-feira, durante coletiva conjunta ao lado do premier britânico, David Cameron, em Washington, o presidente americano, Barack Obama, afirmou que o cronograma dos Estados Unidos para a retirada de suas tropas do Afeganistão não terá "nenhuma mudança repentina".
Os Estados Unidos preveem desde o ano passado reduzir o número de suas tropas de 90.000 para 68.000 soldados até o final de setembro, e retirar o restante progressivamente até o fim de 2014.