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Irmão do islamita Mohamed Merah nega ter ajudado nas matanças de Toulouse

Agência France-Presse
postado em 24/03/2012 17:00
Dois dias depois da morte nas mãos da polícia de Mohamed Merah, autor confesso das matanças no sudoeste da França, seu irmão Abdelkader - que se declarou orgulhoso dos atos do irmão mais novo - se encontra no centro das investigações do caso.

Abdelkader Merah, de 29 anos, e sua companheira, presos desde quarta-feira, foram levados neste sábado da delegacia central de Toulouse (sudoeste) para a sede da Subdireção Antiterrorista (SDAT), perto de Paris.

Abdelkader estava presente no momento do roubo da poderosa scooter que mais tarde serviria a seu irmão para assassinar três crianças e um professor judeus, e três paraquedistas em um período de oito dias.

Durante sua detenção, Abdelkader Merah declarou-se orgulhoso das ações do irmão, segundo fontes judiciais.

Tanto ele como sua companheira foram detidos na quarta-feira a 40 km ao sul de Toulouse, no mesmo momento em que a polícia de elite iniciava um cerco de mais de 30 horas ante o domicílio Mohamed em Toulouse, que acabou com a morte do islamita.

Mohamed Merah, de 23 anos, estava sozinho no momento das matanças, mas os investigadores questionam quem pode ajudá-lo logística e financeiramente. Mohamed, apesar de não ter rendas, estava fortemente armado.

Abdelkader, considerado mais comprometido com o islamismo, declarou a princípio aos policiais que não estava a par dos projetos criminosos de Mohamed Merah.

Ele negou que tenha ajudado o irmão, segundo uma fonte policial. Aparentemente, nada foi encontrado em sua casa que o incrimine.

O exame do conteúdo dos computadores de Abdelkader Merah não revelou até o momento nada que prove seu envolvimento.

Falando aos investigadores neste sábado, Abdelkader confirmou que estava presente no roubo da scooter que seu irmão usou para matar os militares, o professor e as crianças.

A scooter de 500 cm3 tipo T-MAX, da marca Yamaha, foi roubada em 6 de março na região de Toulouse, cinco dias antes do primeiro assassinato.

Mohamed Merah foi mais tarde a uma concessionária Yamaha para perguntar, em vão, como se desativado sistema de geolocalização do veículo. Segundo a fonte policial, foi acompanhado pelo irmão nessa visita à concessionária.

Na quarta-feira, o procurador de Paris, François Molins, explicou que o nome de Abdelkader Merah apareceu em 2007 envolvido numa trama de envio de jihadistas (combatentes da Jihad, guerra santa) para o Iraque, mas não foi indiciado pelo caso.

O ministro do Interior, Claude Guéant, por sua vez, descreveu Mohamed Merah como um pequeno delinquente radicalizado "num grupo de ideologia salafista" de Toulouse, apesar deste grupo não ser suspeito de tramar ações criminosas.

Os investigadores prosseguirão interrogando Adbelkader para saber se proporcionou ajuda financeira ou logística a Mohamed.

Mohamed assegurou, antes de morrer, em conversas com a polícia de elite que cercava sua casa, que comprou armas graças a roubos que praticava, de acordo com a imprensa francesa.

Já a mãe de Mohamed Merah, também presa na quarta-feira, foi libertada na noite de sexta-feira, segundo uma fonte judicial.

De acordo com seu advogado, ela teria se declarado "destruída por um sentimento de culpa e remorso".

"Ela fica se perguntando se poderia ter evitado os fatos", declarou Jean-Yves Gougnaud, defensor de Zoulhika Aziri.

"Estes três dias de detenção preventiva fora difíceis, mas ela cooperou. Ela se pergunta por que seu filho fez isso. Ela está preocupada, tem medo das represálias e, por isso, por ora não voltará para casa", acrescentou.

Segundo uma pesquisa da IFOP que será publicada no domingo pelo jornal Dimanche Ouest France, 53% dos franceses interrogados consideram que a ameaça terrorista é elevada, mas este é o resultado mais baixo desde que essa pergunta é feita aos franceses, em outubro de 2001.

"O fato de que o temor ante a ameaça terrorista esteja num nível historicamente baixo induz a pensar que a tragédia de Montauban e Toulouse abalou os franceses, mas sem criar uma psicose", opina a IFOP.

O presidente Nicolas Sarkozy se reuniu neste sábado com o primeiro-ministro e vários membros de seu governo, assim como com chefes de polícia para tratar de questões de segurança.

Logo a pós a morte de Merah, Sarkozy anunciou que deseja instituir medidas penais para reprimir a apologia ao terrorismo ou o apelo ao ódio e à violência na internet, em viagens ou nas prisões.

"Estes delitos serão castigados penalmente", afirmou o presidente em uma declaração à televisão.

"A partir de agora, qualquer pessoa que consultar páginas na internet que promovam a violência será castigada penalmente", afirmou.

"Qualquer pessoa que se deslocar para o estrangeiro para seguir trabalhos de doutrinamento de ideologias que levam ao terrorismo será castigada penalmente", acrescentou.

"Com o primeiro-ministro (François Fillon), pedi ao ministro da Justiça que realize uma reflexão profunda sobre a propagação destas ideologias no âmbito carcerário", acrescentou.

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