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Síria aceita plano de Kofi Annan para por fim à violência no país

Agência France-Presse
postado em 27/03/2012 09:20
Damasco - O governo sírio aceitou nesta terça-feira (27/3) um plano de seis pontos de Kofi Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe, que considera esta decisão uma etapa inicial importante para acabar com a violência na Síria e que conta com o apoio de Rússia e China.

Segundo a ONU, o número de mortos superou os nove mil depois de pouco mais de um ano de revolta reprimida de forma sangrenta pelo regime. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) contabiliza as vítimas em mais de 9.700.

"O governo sírio escreveu ao enviado especial conjunto Kofi Annan para aceitar seu plano de seis pontos, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU", disse o porta-voz de Annan, Ahmad Fawzi, em um comunicado.

"Annan escreveu ao presidente Assad para convocar o governo sírio a aplicar imediatamente seus compromissos", acrescentou o porta-voz.

"Annan vê isto como uma etapa inicial importante que pode por fim à violência e ao derramamento de sangue, fornecer ajuda aos que sofrem, e criar um ambiente que propicie um diálogo político que cumpra com as aspirações legítimas do povo sírio".

"O essencial é a aplicação", disse Ahmad Fawzi, porta-voz de Kofi Annan.

O plano de Annan propõe um fim da violência por todas as partes e sob supervisão da ONU, o fornecimento de ajuda humanitária a todas as regiões afetadas pelos combates e a libertação de pessoas detidas de forma arbitrária.

Annan estava nesta terça-feira em Pequim, onde obteve o apoio do governo chinês a seus esforços de mediação, como já havia feito a Rússia no final de semana passado.

Os países ocidentais do Conselho de Segurança da ONU receberam com prudência o anúncio sírio.

"Este pode ser o primeiro passo na direção adequada, mas é preciso se manter prudente. A Síria já teve problemas de credibilidade no passado", advertiu o embaixador alemão na ONU, Peter Wittig.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, exortou o presidente sírio a seguir o plano de Annan com "ações imediatas".

Hillary também pediu que a oposição síria apresente uma mensagem "unificada" em ocasião da conferência dos "Amigos da Síria", que será realizada no domingo em Istambul, na Turquia.

No terreno, as forças sírias mantinham seus ataques em vários pontos do país. Segundo o OSDH, ao menos 17 pessoas morreram em operações militares ou em confrontos entre tropas governamentais e desertores em vários pontos do país, das quais seis soldados e sete civis.

Segundo o embaixador dos Estados Unidos na Síria, Robert Ford, as forças de segurança sírias "torturam pessoas arbitrariamente detidas", o que caracteriza possíveis "crimes contra a humanidade".

Segundo a televisão síria, o presidente Bashar al-Assad se encontrava nesta terça-feira na cidade de Homs (centro), onde visitou o bairro de Baba Amr, um reduto insurgente sitiado e bombardeado durante várias semanas até ser reconquistado pelo exército.

Em uma rara aparição pública, o dirigente atribuiu a violência aos "terroristas" e prometeu que o bairro de Baba Amr será reconstruído "muito melhor do que antes".

Em nível diplomático, as facções opositoras sírias se reuniam nesta terça-feira pelo segundo dia em Istambul para tentar estabelecer uma série de objetivos comuns, antes de uma conferência internacional sobre a Síria prevista para o dia 1; de abril nesta cidade turca. A oposição síria, fragmentada, tenta se unir para enfrentar a repressão incessante do regime de Damasco.

Um texto atualmente em discussão destaca a importância do respeito aos direitos humanos e às minorias, e o caráter laico que o novo regime deve ter, para afastar a ameaça islamita.

Os países da Liga Árabe pedirão um "diálogo nacional" entre o governo sírio e a oposição, de acordo com um projeto de resolução que deve ser aprovado na quinta-feira na cúpula de chefes de Estado.

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, manifestou novamente seu apoio a Assad ao receber nesta terça-feira um enviado do dirigente sírio, Faysal Meqdad.

"A República Islâmica do Irã não tem limite algum para desenvolver suas relações com a Síria, e fará tudo para apoiar este país", declarou o mandatário iraniano, atacando a política das monarquias árabes do Golfo, que pediram a saída de Assad e apoiaram a oposição síria.

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