Agência France-Presse
postado em 29/03/2012 18:28
Miami - As organizações de exilados cubanos em Miami denunciaram nesta quinta-feira (29/3) o cerco dos opositores ao regime comunista durante a visita de Bento XVI, declarando-se decepcionadas com o fato de Sua Santidade ter privilegiado uma reunião com Fidel Castro; não com a dissidência.No entanto, a maioria dos líderes de grupos anticastristas aplaudiram as vozes alternativas "que se fizeram ouvir, a dos dissidentes que denunciaram a repressão nesses três dias", disse Janisset Rivero, secretária executiva do Diretório Democrático Cubano (DDC).
Ante o clima de desapontamento, entre a liderança dos exilados na Flórida (sudeste), o Arcebispo de Miami, Thomas Wenski, defendeu a missão do Pontífice em Cuba, esclarecendo que Bento XVI não poderia "fazer num só dia o que os cubanos não conseguiram em 50 anos".
"O legado da visita papal será uma Igreja, talvez, com mais confiança e um povo mais reconciliado", disse Wenski numa entrevista à imprensa ao desembarcar no aeroporto internacional de Miami na tarde desta quinta-feira, pouco antes do retorno dos mais de 300 peregrinos que acompanharam a comitiva oficial católica da Flórida.
O governo dos Estados Unidos manifestou alegria com a visita do Papa a Cuba, mas defendeu seu direito de aplicar um embargo à ilha, declarou Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.
Ante a decepção dos exilados de Miami com o fato de o Papa não ter se reunido com as Damas de Branco, destinando, em vez disso, 30 minutos na quarta-feira ao líder Fidel Castro, o arcebispo disse que "não é ele o encarregado da agenda do Santo Padre".
"Recentemente, o núncio apostólico de Havana reuniu-se com as Damas de Branco e os detalhes dessa conversa são muito bem conhecidos por Sua Santidade Bento XVI", acrescentou.
"Lamentamos que o Santo Padre não tenha concedido alguns minutos às Damas de Branco nem a vozes da sociedade civil e independente, mas podemos dizer que, apesar das detenções, da repressão e das ameaças, o clamor da resistência não deixou de ser ouvido, apesar de o regime ter querido transformar a visita pontifical em símbolo de legitimação", afirmou Janet Rivero.
Por sua vez, o Centro de Apoio e Informação da Assembleia da Resistência Cubana, formada por meia centena de organizações dentro e fora da ilha, anunciou em Miami que elaborou "uma lista parcial de 250" opositores que foram impedidos de sair de suas casas para evitar que assistissem às atividades do Papa.
As organizações fizeram um apelo à comunidade internacional para que se investigue o paradeiro e a identidade "do corajoso cidadão cubano que se manifestou civicamente contra o comunismo" antes da celebração da missa em Santiago de Cuba na segunda-feira, 26 de março de 2012. O arcebispo de Miami prometeu seguir o caso de perto.
Essas denúncias coincidem com a do Movimento Democracia, também de exilados na Flórida, e as da Anistia Internacional que apontou, na quarta-feira, um "aumento do cerco" aos ativistas pró-direitos humanos em Cuba para "silenciá-los" durante a visita papal.
Em relação aos resultados políticos da visita, figuras cubanas no exílio expressavam opiniões diferentes sobre os dois encontros do Papa com o presidente cubano Raúl Castro e o Comandante Fidel Castro.
"Nem sim, nem não; muito pelo contrário", era o título de um editorial do jornal El Nuevo Herald, onde Marcos Antonio Ramos, historiador eclesiástico e pastor batista, considerou que tanto a Igreja de Cuba quanto o governo de Raúl Castro saíram ganhando com a visita do Pontífice.
Já o escritor cubano Carlos Alberto Montaner, opinou que tanto a Igreja quanto o regime comunista saíram perdendo porque, no seu entender, ninguém ficou contente com o que o Papa fez ou disse.
Montaner afirmou que esperava de Bento XVI "uma posição mais firme e uma linguagem mais claro, se tivesse a oportunidade de sacudir a consciência do país".