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Tuaregues avançam no norte do Mali e preocupam Bamaco

Agência France-Presse
postado em 31/03/2012 13:38
Bamaco - "Ontem Kidal, hoje Gao. Onde estes rebeldes vão parar?", questiona Ibrahima Togo, preocupado, como muitas pessoas em Bamaco, com o avanço dos rebeldes tuaregues no norte do Mali.

Ibrahima participou na manhã deste sábado de um novo comício em apoio a junta militar que derrubou, em 22 de março, o presidente Amadou Toumani Touré (ATT).

À espera do início dos discursos, ele "soube que os rebeldes entraram em Gao (nordeste)", principal cidade do deserto do Mali e capital de uma das três regiões administrativas do norte, junto com Kidal (extremo norte) e Timbuktu (noroeste).

Na sexta-feira, combatentes de grupos islâmicos e de um movimento rebelde tuaregue já tinham tomado o controle de Kidal.

Os rebeldes tuaregues realizam, desde meados de janeiro, uma grande ofensiva no norte. As guarnições do governo caíram uma após a outra e o norte do país está agora, em grande parte, sob seu controle.

"Onde estes rebeldes vão parar?", repete Ibrahim, estudante do 4; ano de geografia, que veio para apoiar a junta militar nas arquibancadas do estádio em Yirimadio (sudeste de Bamako). "Precisamos realmente encontrar uma solução", disse, balançando a cabeça.

Ndankou Diaouné, mãe e dona de casa, também está inquieta. "Estou aqui pelo meu país, não contra ATT. As coisas já não estavam boas, temos agora de nos unir e aumentar nossa carga com esta guerra", lamenta.

"ATT não fez muita coisa" contra os rebeldes, "os jovens se irritaram e tomaram o poder, mas o problema continua. Agora, tudo o que podemos fazer é rezar pela paz. Nós queremos paz, nós precisamos de paz", acrescenta.

Esta é a percepção generalizada por parte dos participantes deste comício realizado neste sábado em Bamako, apolítico, ecumênico e de paz, convocado pelos líderes religiosos do país.

"E depois, será Timbuktu?"

No estádio poliesportivo Modibo Keita, em Medina Coura (perto do centro), cerca de 25.000 muçulmanos, católicos e protestantes, segundo os organizadores, gritavam em coro mensagens a favor da paz, em surata ou em francês.

No púlpito, em um pódio instalado no gramado, Thierno Hady Thiam, conhecido pregador muçulmano no Mali, provoca reações de ira, listando as localidades já conquistadas pelos rebeldes.

"E depois, será Timbuktu? E depois de Timbuktu, será Segou? E depois de Segou, Bamaco?", diz, convocando a multidão para um "renascimento nacional", calando as disputas políticas entre defensores e críticos do golpe militar. "Salvemos primeiro o Mali".

"O momento é grave" e "a última novidade" vinda de Gao "só pode nos entristecer ainda mais", declarou, por sua vez, o arcebispo de Bamako, o Bispo Jean Zerbo. Ele ressaltou que muitos malineses têm a mesma pergunta em suas cabeças: "O que estamos nos tornando?". Ele incentiva a esperar e rezar pela paz. "Nossa principal preocupação é a busca da paz".

Poucos minutos antes, no mesmo púlpito, Mahmoud Dicko, diretor do Conselho Supremo Islâmico do Mali (HCIM), fez o mesmo discurso, quase encantatório.

"Que a paz entre em nossos corações, nossas aldeias e em nosso país. Só Deus pode nos trazer a paz". "Amiiina (Amém), responderam em coro as arquibancadas.

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