Agência France-Presse
postado em 06/04/2012 09:25
Os rebeldes tuaregues do Mali declararam nesta sexta-feira a independência da região Norte, dividindo o devastado país em duas partes e aumentando os temores de um desastre humanitário em uma região que já foi considerada uma experiência democrática de sucesso.Com Mali agora dividido em uma metade Norte controlada pelos rebeldes e uma ao Sul governada por uma junta militar golpista, a comunidade internacional se mobiliza para tentar uma solução ante o colapso deste país da região oeste africana.
Organizações humanitárias alertam sobre a iminente catástrofe humanitária, ao mesmo tempo que centenas de pessoas fogem das principais cidades do norte do país, enquanto grupos rebeldes roubam alimentos e remédios em toda a região.
O Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), importante componente da rebelião tuaregue no Mali, proclamou na manhã desta sexta-feira a independência de uma região que chamam de Azawad e que ocupa todo o norte do Mali, uma área pela qual lutam há décadas.
"Proclamamos solenemente a independência do Azawad a partir deste dia", declarou o porta-voz do MNLA, Mossa Ag Attaher, ao canal de televisão France 24, confirmando uma mensagem publicada no site do grupo.
Attaher prometeu que o MNLA respeitará "as fronteiras dos Estados limítrofes" e interromperá todas as ações militares. Os tuaregues controlaram todo o norte do Mali em apenas duas semanas, com a ajuda de grupos islamistas, após o golpe militar na capital, Bamaco.
O anúncio ocorre após os rebeldes tuaregues e grupos islâmicos tomarem o controle das três cidades do norte - Kidal, Gao e Timbuktu - sem nenhuma resistência por parte do Exército malinês, desorganizado e desarmado.
Na França, antiga potência colonial, o ministro da Defesa, Gérard Longuet, afirmou que uma "declaração unilateral de independência não será reconhecida pelos Estados africanos não tem sentido".
Mas o controle real dos tuaregues sobre a região parece tênue, já que seus aliados islamistas anunciaram a imposição da sharia (lei islâmica) e sequestraram sete argelinos ao noroeste do país.
O porta-voz condenou o sequestro do cônsul da Argélia em Gao "por um comando terrorista" e disse que um grupo de assaltantes "não identificados" levou o cônsul e seis de seus colaboradores para um destino desconhecido".
"Acabamos de concluir um combate muito importante, é a libertação...", disse Attaher em nome do secretário-geral do MNLA, general Billal Ag Achérif.
O Movimento Nacional para a Libertação da Azawad (MNLA) teve a adesão dos islamitas do Ansar Dine, liderados por Iyad Ag Ghaly, e de membros da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), que lideram as "operações militares" do grupo.
Testemunhas afirmam que os reais senhores do Norte do Mali não são os tuaregues, e sim o grupo Ansar Dine.
Organizações humanitárias, como a Oxfam e World Vision, manifestaram preocupação com as severas sanções impostas ao Mali, inclusive por países vizinhos, depois do golpe militar.
Estas temem o aumento da crise alimentar no caso de manutenção das sanções.
O Mali mergulhou no caos após o golpe de Estado de 22 de março contra o regime do presidente Amadou Toumani Toure, que deixaria o poder uma semana depois. A junta militar que assumiu o controle do país é liderada pelo capitão Amadou Sanogo.
As tropas justificaram o golpe com a alegação de que o governo de Toure havia fracassado no confronto contra a rebelião tuaregue, mas os rebeldes aproveitaram o vácuo de poder e controlaram o norte do Mali.
A junta golpista, que orientou o Exército malinês a não resistir à ofensiva, convocou os cidadãos do Norte na quinta-feira a resistir aos "invasores".