Agência France-Presse
postado em 07/04/2012 12:52
Damasco - Os ataques do Exército sírio, os combates entre soldados e desertores e a repressão do regime de Bashar al-Assad deixaram 83 mortos neste sábado, a poucos dias da data limite estabelecida pela ONU para a retirada das forças militares das cidades rebeldes sírias."Cinquenta e cinco civis morreram, 40 deles em bombardeios e disparos apenas na cidade de Latamna, na província de Hama", informou em um comunicado o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), segundo o qual 28 combatentes faleceram em diferentes regiões.
Além das vítimas de Latama, o OSDH informou que cinco civis faleceram em Tibet al-Imam, na mesma província, e outros quatro nas cidades de Quseir e Rastan, bombardeadas pelas Forças Armadas, na região de Homs (centro).
No centro de Damasco, milhares de pessoas se reuniram para celebrar o 65; aniversário de fundação do partido Baath, que governa a Síria.
Os manifestantes exibiam bandeiras da Síria e do Baath, assim como fotos do presidente Assad, com cantos patrióticas ao fundo.
"Deus, Síria, Bashar e basta", "Shabbiha (milícias leais ao regime) a vida, por ti Assad", gritava a multidão.
"Convocaram uma revolução e fizeram uma matança", gritou uma jovem a respeito dos rebeldes sírios.
As festividades acontecem no momento em que a nova Constituição, aprovada em fevereiro por referendo com quase 90% dos votos, acaba com a supremacia do Baath, que governa a Síria há 50 anos.
No campo de batalha, as Forças Armadas também bombardearam Zabadani, 47 km ao noroeste de Damasco.
Na província de Idleb (noroeste), perto da fronteira com a Turquia, os soldados enfrentaram desertores.
Em Homs, um jornalista de 17 anos, Anas al-Halwani, foi morto a tiros quando tentava retirar outro militante ferido, segundo os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizam os protestos contra Assad.
"Anas ficou seis horas deitado na calçada em consequência da presença dos franco-atiradores, antes que alguns jovens conseguissem retirá-lo. Morreu pouco depois", afirma um comunicado dos LCC.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os ataques do regime constituíam uma "violação da postura da ONU".
O Conselho de Segurança da ONU aprovou na quinta-feira por unanimidade uma declaração que pede ao regime sírio o respeito da data limite de 10 de abril para o fim das principais operações militares, ao mesmo tempo que demanda a oposição síria a fazer o mesmo no mais tardar nas 48 horas seguintes.
"As autoridades sírias são plenamente responsáveis pelas graves violações dos direitos humanos. Isto deve parar", disse Ban Ki-moon.
"A promessa do presidente Assad de acabar com as operações militares até 10 de abril não pode servir de desculpa para continuar matando", disse Martin Nesirky, porta-voz de Ban.
"Tais ações fragilizam a postura consensual do Conselho de Segurança definida no plano de paz estabelecido pelo emissário da ONU e Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan", completou.
Ban Ki-moon se mostrou "extremamente preocupado" com a crise humanitária na Síria. O número de refugiados nos países vizinhos é cada vez maior.
Nas últimas 24 horas, 700 refugiados sírios entraram na Turquia, elevando a mais de 24.000 o número de pessoas procedentes da Síria que buscaram proteção no país.
Na semana passada, 2.800 sírios cruzaram a fronteira com a Turquia em um período de 36 horas para escapar de um ataque das tropas sírias apoiado por helicópteros.
A Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), que em março realizou com a ONU uma missão de avaliação humanitária na Síria, calculou a necessidade de uma ajuda humanitária de 70 milhões de dólares.
A ONU anunciou em 29 de março que mais de um milhão de sírios precisavam de ajuda humanitária.
A Síria é cenário desde março de 2011 uma revolta popular violentamente reprimida. Segundo o OSDH, mais de 10.000 pessoas morreram, em sua grande maioria civis.