Agência France-Presse
postado em 10/04/2012 17:36
Nova York - O Conselho de Segurança da ONU pediu nesta terça-feira (10/4) que o presidente Bashar al-Assad cumpra o prazo de quinta-feira para fazer com que o cessar-fogo total na Síria seja respeitado. Em um comunicado lido pela embaixadora americana Susan Rice, o conselho manifestou o seu apoio ao enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, que pediu que Damasco "realize uma mudança fundamental de curso" em sua conduta para por fim às hostilidades antes das 06h00 locais de quinta-feira na capital síria.O mediador enviou uma carta de três páginas ao Conselho lamentando nesta terça-feira que o regime sírio não tenha cumprido todos os seus compromissos de retirada militar na data de 10 de abril e pedindo ao Conselho que solicite urgentemente que poder e oposição "respeitem a data limite de 12 de abril" para por fim às hostilidades. "Permaneço convencido de que tudo deve ser feito para obter uma suspensão da violência sob todas as suas formas no dia 12 de abril às 06h00" (hora de Damasco), reafirma Annan em sua carta.
Dirigindo-se à imprensa, Rice rejeitou a ideia de que o Conselho tenha estipulado um novo prazo para 12 de abril após ter deixado passar um primeiro limite. "Não vejo isso como uma nova data limite, a data limite era hoje", afirmou, acrescentando: "a data limite passou e a violência continuou". "Os Estados Unidos consideram que é escandaloso, mas não surpreendente, que o governo (sírio) tenha feito promessas e não as tenha cumprido". "Chegaremos muito em breve ao momento da verdade", advertiu, indicando que "a próxima etapa será acentuar a pressão" sobre o regime do presidente Bashar al-Assad.
Enquanto isso, mais de 50 pessoas morreram na Síria nesta terça-feira, de acordo com organizações da oposição. Segundo militantes opositores, o Exército sírio bombardeou nesta terça-feira várias cidades, provocando pelo menos 52 mortes, entre elas as de 28 civis, em diferentes regiões do país. Damasco aceitou o plano proposto por Annan, mas depois pediu garantias por escrito do fim da violência cometida pelos rebeldes, a quem compara com "terroristas".
Os rebeldes armados da Síria decidiram interromper seus ataques às tropas regulares por 48 horas, mas, se o governo não retirar seus homens das grandes cidades, eles retomarão as operações ofensivas, afirmou à AFP um porta-voz do Exército Livre da Síria (ELS). "Durante 48 horas não vamos atacar o Exército, somente nos defenderemos. Se os bombardeios não terminarem e os tanques não forem retirados, passaremos ao ataque e intensificaremos nossas operações militares", disse o coronel Kassem Saadeddine.
O descumprimento do plano foi denunciado pela comunidade internacional: Paris criticou "a mentira flagrante e inaceitável" de Damasco e Londres reconheceu que "não há nenhuma prova até agora de que o regime tenha intenção de cumprir com algum dos compromissos que assumiu".
Annan, que viajou a Teerã nesta terça-feira à noite para se reunir na quarta com o chefe da diplomacia iraniana, Ali Akbar Salehi, pediu o fim da violência "sem condições".
Um documento da Irmandade Muçulmana, de enorme influência sobre a oposição, considerou que o plano oferecia "uma licença para matar ilimitadamente" ao governo de Assad. "Nosso povo pagou com 1.000 mártires como preço pelo plano de Annan, e agora o mundo inteiro conhece os resultados", disse o texto. Segundo este movimento, o regime matou mil pessoas desde o dia 2 de abril, quando a ONU anunciou a aceitação por parte de Damasco do plano de Annan.
Em Moscou, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, havia afirmado anteriormente que o regime sírio iniciava a aplicação do plano de paz, com uma retirada parcial de Homs (centro), apesar de a Organização Síria de Direitos Humanos (OSDH) ter denunciado a morte de sete pessoas na área nesta terça-feira, provocadas principalmente pelos bombardeios.
Lavrov, em coletiva de imprensa realizada ao lado de seu colega sírio, Walid Moualem, pediu para Damasco para ser "mais firme" na aplicação do plano, mas também exigiu que Annan intensifique sua pressão sobre a oposição.
Moualem voltou a acusar a Turquia de armar e apoiar os rebeldes, depois que a tensão entre os dois países aumentou subitamente na segunda-feira por causa de disparos efetuados por forças sírias que deixaram feridos em território turco. O primeiro-ministro turco, Recep Tayip Erdogan, aumentou o tom nesta terça-feira ao afirmar que "houve uma violação muito clara da fronteira". "É evidente que vamos tomar todas as medidas necessárias", acrescentou, sem dar detalhes. De acordo com o governo turco, cerca de 25 mil sírios chegaram como refugiados a seu território desde o início do levante popular contra o presidente Bashar al-Assad em março do ano passado.