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Regime sírio assegura que suspenderá operações militares na quinta-feira

Agência France-Presse
postado em 11/04/2012 17:56
Damasco - O regime sírio anunciou que suspenderá as suas operações militares na manhã de quinta-feira (11/4), dia em que termina o ultimato do plano Annan para um cessar-fogo, embora tenha advertido que suas forças responderão a qualquer ataque "terrorista". Os Estados Unidos reagiram a este anúncio assegurando que julgarão o regime sírio "com base no que fizer, não no que disser".

O enviado da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, recebeu uma carta do ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Mouallem, na qual o regime promete que cumprirá o ultimato fixado para começar a por fim a 13 meses de conflito, que, segundo uma ONG síria, já deixou mais de 10.000 mortos.

No documento, o regime anuncia a suspensão de "todos os combates militares em todo o território sírio a partir das seis da manhã (hora de Damasco e 00h00 de Brasília) de quinta-feira, 12 de abril de 2012", que corresponde ao ultimato fixado por Annan, indicou seu porta-voz, Ahmad Fawzi.

A televisão estatal síria fez o mesmo anúncio, citando sob anonimato uma autoridade do Ministério da Defesa. "Depois de nossas forças armadas terem cumprido sua missão de combate às ações criminosas dos grupos terroristas e de terem afirmado a autoridade do Estado no território (sírio), elas decidem por fim a esta missão a partir da quinta-feira de manhã", indicou o alto funcionário. Damasco acrescentou, no entanto, que se reserva "o direito de responder de forma proporcional a qualquer ataque efetuado por grupos terroristas armados contra os civis, as forças governamentais ou bens públicos e privados".

A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, classificou de "pouco ou nada confiáveis" as promessas de Damasco, tendo em vista a conduta do governo sírio no passado. Rice também considerou que o cassar-fogo "não pode ser considerado uma aplicação do plano de seis pontos" do plano Annan e lembrou que Damasco tinha se comprometido a retirar suas tropas das cidades sírias e não respeitou esse compromisso.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse nesta quarta-feira (11/4) que está alarmada com a "atual violência" na Síria. A Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, destacou que agora "cabe à oposição armada" cumprir o cessar-fogo.

O ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, pediu a Moscou que se distancie de Damasco e manifestou seu desejo de que os ministros do G8, reunidos em Washington, lancem uma "mensagem de unidade e determinação" ao regime de Bashar al-Assad.

Os insurgentes, aos quais o regime se refere como "grupos terroristas", afirmaram em várias ocasiões que respeitarão os prazos estabelecidos pelo plano para por fim aos combates. O fim da violência é o segundo dos seis pontos do plano de paz de Annan, que foi aceito no dia 2 de abril pela Síria e adotado pelo Conselho de Segurança da ONU três dias depois. Antes do anúncio de Damasco, Kofi Annan expressou um otimismo moderado, dizendo que seu plano ainda tinha chances de êxito, apesar da continuação da repressão por parte do regime.

Nesta quarta-feira (11/4), as forças do governo mataram pelo menos 14 civis ao bombardearem bairros da cidade de Homs (centro) e outros focos rebeldes em Deraam (sul), Aleppo (norte) e Deir Ezzor (leste), segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

E na fronteira turca, os disparos das forças sírias atingiram um acampamento de refugiados, pela segunda vez em três dias, informou a imprensa turca. "Na véspera do limite para o estabelecimento total do cessar-fogo na Síria, não há sinal algum no terreno de que o regime respeite" as condições do emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, considerou o Conselho Nacional Sírio (CNS) em um comunicado.

Ao se referir ao Irã, aliado da Síria, Annan disse que, se o governo e a oposição respeitarem o estipulado em seu plano, "a partir das 06h00 (hora de Damasco - 00h00 em Brasília) de quinta-feira, 12 de abril, deveremos ver uma clara melhora da situação no terreno". Annan indicou que o regime de Bashar al-Assad deu "esclarecimentos adicionais" sobre o que espera da oposição: "garantias sobre o fato de que as forças da oposição cessarão também os combates para permitir a suspensão de qualquer violência".

Pequim e Moscou, dois aliados de peso do regime que em duas oportunidades bloquearam resoluções do Conselho de Segurança condenando a repressão, pediram que Damasco aplique rapidamente o plano Annan e a China se declarou "profundamente preocupada".

Por sua vez, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Ali Akbar Salehi, se disse "contrário às intervenções estrangeiras nos assuntos de qualquer país", considerando que "toda mudança deve ser feita sob o governo sírio" atual.

A crise síria está na agenda das reuniões de chanceleres do G8, previstas para esta quarta-feira e para quinta em Washington.

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