Agência France-Presse
postado em 12/04/2012 18:37
Lima - O sequestro de 36 trabalhadores de uma construtora sueca e de uma peruana no sudeste do Peru, cuja libertação foi condicionada pela guerrilha do Sendero Luminoso ao pagamento de um resgate de 10 milhões de dólares, entrou no quarto dia nesta quinta-feira perante a negativa do governo de negociar o envio de 1.500 soldados à região. O governo peruano descartou qualquer tipo de negociação pela libertação dos trabalhadores das construtoras sueca Skanska e da local Construcciones Modulares, enquanto reafirmou a luta sem trégua contra a guerrilha.A busca pelos reféns foi reforçada com maior presença militar, que aumentou para mais de 2.000 os efetivos da polícia e das forças armadas no distrito de Echerate, onde fica o povoado de Kepashiato, região de Cuzco, 500 km a sudeste de Lima, onde 70 guerrilheiros sequestraram os funcionários na segunda-feira.
"O governo não negocia com terroristas, o governo age no marco da lei", disse o ministro da Justiça, Juan Jiménez, em declarações a uma emissora de TV local sobre uma suposta carta dos sequestradores pedindo um resgate de 10 milhões de dólares. "Está sendo feito um trabalho de segurança na região para poder resgatar com vida estas pessoas", acrescentou o ministro Jiménez.
As empresas afetadas emitiram um comunicado no qual destacaram que "confiam em uma rápida e segura libertação de seus 36 colaboradores".
Em Lima, representantes da Skanska contatados por telefone pela AFP se recusaram a confirmar ou negar se existe uma negociação em curso que os envolva para concretizar o pagamento do resgate, como especula a imprensa peruana. "São 28 os trabalhadores da empresa sueca Skanska e oito os da empresa Construcciones Modulares que estão sequestrados", havia informado na terça-feira à AFP Armando Fabbri García, gerente de Recursos Humanos da Skanska.
O representante da Skanska se eximiu de falar do resgate. "Não estou autorizado a entrar em detalhes sobre o documento", disse. "Este sequestro é um golpe midiático do Sendero com efeito de chamar a atenção e passar a mensagem de que eles existem e controlam uma parte do território", disse à AFP o analista em assuntos de segurança Rubén Vargas.
"Quero que volte são e salvo para casa", afirmou à rádio RPP de Lima Margot Pastor, esposa de um dos sequestrados, que lamentou a falta de informação sobre a situação.
O sequestro foi chefiado pelo ;camarada Gabriel;, membro da facção do Sendero Liminoso que atua no vale do Rio Apurimac-Ene (VRAE), ala mais radical e forte da guerrilha. O VRAE é uma das rotas do narcotráfico no Peru e o governo insiste há uma década em vincular a esta facção traficantes de drogas, visto que o cultivo da folha de coca é uma atividade em voga na região. O Peru é um dos maiores produtores mundiais de folhas de coca e de cocaína, segundo dados recentes das Nações Unidas.
Neste contexto, o Sendero Luminoso quer enviar a mensagem de que é capaz "de por em xeque a segurança e o governo. É uma mensagem grave que põe em questão a capacidade das autoridades de dar segurança aos grandes investimentos e à gente comum", afirmou à AFP o analista Vargas.
O sequestro ocorre, ainda, na mesma região onde se encontra a jazida gasífera de Camisea, a principal do Peru, o que desperta dúvidas razoáveis sobre o controle da região, porque em 2003 ocorreu o sequestro de 70 trabalhadores da empresa argentina Techint em uma ação similar. As duas empresas afetadas agora trabalham para o consórcio Transportadora de Gás do Peru, do projeto de gás de Camisea.
O estado de emergência declarado em Echarate na quarta-feira militarizou esta região, que se caracteriza por ser inóspita em grande parte e com paisagens marcadas por montanhas e vegetação frondosa.