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Governo uruguaio é acusado de conivência com a impunidade de torturadores

postado em 16/04/2012 08:00

A ascensão de governos de esquerda na América Latina representou um alento para muitas vítimas dos regimes militares. Passados os primeiros anos dessa virada política, no entanto, familiares de desaparecidos em alguns países denunciam que as autoridades fazem pouco para trazer à tona a verdade sobre os crimes do período de repressão. No Uruguai, onde o regime de exceção durou entre 1973 e 1985, parentes acusam o governo de José Mujica de estar sendo conivente com a impunidade de torturadores. Uma juíza chegou dizer que o presidente, de esquerda, não estava agindo como deveria em um dos casos mais polêmicos dos últimos meses.

A juíza Mariana Mota se referia à investigação da morte de Aldo Perrini, um sorveteiro preso por soldados em 26 de fevereiro de 1974 e declarado morto cinco dias depois. ;Não há uma promoção dos direitos humanos para que essa situação, que é nacional e que nos marcou muito, seja esclarecida;, disse ela ao diário argentino Página/12, no mês passado. ;Mujica e o ministro da Defesa foram reféns da ditadura. Talvez por isso não possam ver com objetividade um processo ditatorial que os teve como vítimas;, afirmou. A declaração gerou um processo na Suprema Corte de Justiça do país, que cobrou explicações da juíza, e uma enxurrada de protestos.


Leia depoimento de preso pelo regime militar do Uruguai nos anos 1970:

O terror como método
"Eu tinha 19 anos quando o governo começou uma repressão maluca. Na televisão, diziam que procuravam os (guerrilheiros) tupamaros, e a gente se perguntava o que estava acontecendo. Um dia, era verão, eu saí de um baile às 5h. Quando deu 10h, acordei com uns militares no pé da minha cama, me apontando um fuzil. Me levaram a uma delegacia, fui encapuzado e conduzido a um quartel. Chegando lá, começou a porrada. Fiquei sem dormir vários dias. As mulheres eram todas violentadas, tinham os seios queimados com cigarro. Todos nós sofríamos choques elétricos e eles ;praticavam; o submarino, enfiando a nossa cabeça na água podre. Às vezes, eles nos davam um pouco de água para que a gente permanecesse vivo. Os médicos acompanhavam a tortura para alertar quando alguém estava morrendo. Jamais achei que eu ia ser preso, eu vivia em um país onde as eleições eram livres! Mas, para uma ditadura, não há motivos, ou você concorda ou não concorda. E eles queriam acabar com qualquer tipo de resistência política através do terror."
Francisco (nome fictício), 57 anos, uruguaio radicado em Brasília.

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