Agência France-Presse
postado em 16/04/2012 15:30
Oslo - Anders Behring Breivik admitiu a autoria, mas não aceitou ser considerado penalmente culpado pela matança de 77 pessoas em julho de 2011 na Noruega, e assistiu impassível às gravações de suas ações exibidas durante o primeiro dia de seu julgamento.Mostrou-se imperturbável durante toda a manhã, à exceção de raros momentos em que chegou a sorrir, mas, inesperadamente, chorou quando o tribunal projetou um filme de propaganda realizado e difundido por ele na internet no dia 22 de julho, dia dos ataques.
O choro foi motivado em parte, segundo contou o próprio réu a seu advogado Geir Lippestad, devido "ao fato de que cometeu seu gesto, que descreveu como atroz, mas necessário, com o objetivo de salvar a Europa de uma guerra em curso".
"É improvável que seja arrependimento; ele sentiu pena de si mesmo, não das famílias", declarou um advogado das famílias das vítimas, Mete Yvonne Larsen, ao comentar o choro do réu."Eu reconheço os fatos, mas não reconheço minha culpa", declarou Breivik. "Invoco a legítima defesa", acrescentou, explicando que agiu contra "traidores da pátria" culpados de vender a sociedade norueguesa ao Islã e ao multiculturalismo.
Ao entrar no tribunal, Breivik bateu no peito com a mão direita antes de estender o braço, com punho cerrado, para o público de cerca de 200 pessoas, composto por famílias de vítimas, sobreviventes, jornalistas e quatro psiquiatras. Esta saudação, explica em um manifesto publicado na internet, representa "a força, a honra e um desafio aos tiranos marxistas na Europa".
De terno escuro, camisa branca e gravata bege dourada, Breivik que se apresentou como escritor declarou para os cinco juízes: "Eu não reconheço o tribunal norueguês".Também não demonstrou a menor emoção quando foi difundida a chamada de socorro à polícia de Renate Taarnes, de 22 anos, que tentava escapar do massacre na ilha de Utoeya, onde 69 jovens - a maioria menores de 20 anos - foram executados em sua maioria com um tiro na cabeça.
Durante a primeira pausa da manhã, Breivik nem se incomodou em levantar, ao contrário do habitual, quando os juízes, entre eles a presidente Wenche Elizabeth Arntzen, saíram da sala.
O julgamento do massacre mais sangrento cometido na Noruega desde a Segunda Guerra Mundial teve início sob um forte esquema de segurança e com uma presença considerável da imprensa.O procedimento deverá durar seis semanas e a principal questão será a sanidade mental do acusado, que já reivindicou o massacre.
Breivik, 33 anos, é acusado de "atos de terrorismo". Seu depoimento deve ocorrer nesta terça-feira (17/4).Mas seu advogado, Geir Lippestad, que tem a ajuda de três assistentes, já preveniu: "Será extremamente difícil escutar suas explicações". Segundo o defensor, "ele vai lamentar por não ter ido mais longe em sua carnificina, caracterizada por ele como ;atroz, mas necessária;".
O procurador Inga Bejer Engh leu a ata de acusação e enumerou o nome das 77 vítimas. Das vítimas, oito foram mortas na explosão de um carro-bomba próximo de uma das sedes do governo e 69 foram friamente assassinadas na ilha de Utoeya.
Em um silêncio quase religioso, apenas os nomes das vítimas eram ouvidos.As famílias demonstravam sua desaprovação acenando com a cabeça. Algumas pessoas sufocavam os soluços.
Breivik manteve sua cabeça e olhos baixos, com o rosto completamente impassível, como se não ouvisse o procurador declarar solenemente: "O acusado praticou crimes extremamente graves em uma escala que até agora nunca foi vista em nosso país nos tempos modernos".
Durante a intervenção do segundo promotor, Svein Holden, Breivik se mostrou mais ativo e atento: tomou notas, olhou para as diferentes imagens projetadas pela acusação em uma tela gigante.Seu rosto até esboçou um sorriso quando Holden contou como o acusado tinha vendido diplomas falsos.
Caso os juízes, em seu veredicto esperado para julho, o considerem penalmente responsável, Breivik pegará 21 anos de prisão, uma pena que pode ser prolongada pelo tempo que ele for considerado perigoso.Do contrário, deverá ser submetido a um tratamento psiquiátrico em um hospital fechado, provavelmente pelo resto de sua vida.