Agência France-Presse
postado em 17/04/2012 15:03
MOSCOU - O fundador do Wikileaks, Julian Assange, e a emissora de televisão estatal russa RT transmitiram nesta terça-feira uma entrevista com o líder do Hezbollah e prometeram novas entrevistas polêmicas, uma aliança explosiva para enfrentar a imprensa ocidental.A RT, emissora multilingue lançada em 2005, em inglês, árabe e espanhol, anunciou sua colaboração com Assange, um desafeto dos Estados Unidos que publicou no Wikileaks milhares de e-mails diplomáticos americanos em nome da liberdade de informação.
A chefe de redação da RT, Margarita Simonian, já havia advertido que a primeira das doze personalidades entrevistadas pelo programa criaria muita polêmica.
"Muitos ficarão extremamente descontentes", disse, no Twitter, antes do início, às 11h30 GMT (09h00 de Brasília), do programa gravado Inglaterra, onde o carismático australiano é mantido em prisão domiciliar à espera de uma decisão sobre sua extradição à Suécia, país que o requer para interrogá-lo por quatro supostos crimes sexuais.
Julian Assange também admitiu que esperava ser tratado como um "combatente inimigo, traidor, que dorme na cama do Kremlin e conduz entrevistas com terríveis (militantes) radicais", segundo o site da RT.
A entrevista com Hassan Nasrallah, inimigo de Israel e de Washington, foi a oportunidade para o líder do movimento xiita libanês reafirmar o seu apoio ao regime sírio, que reprime há mais de um ano um movimento de contestação, e de acusar a oposição de negar o diálogo.
Esta posição se aproxima muito da mantida por Moscou, que bloqueou as resoluções da ONU e que denuncia o apoio do ocidente aos opositores.
"Em termos de marketing, de relações públicas, é um belo golpe" para RT e Assange, afirma Anna Katchakaeva, especialista em mídia à rádio russa Svoboda, financiada pelo Congresso dos Estados Unidos. "A emissora tem chamado a atenção para si e obrigou os meios de comunicação internacionais falarem dela", considera.
A RT, financiada pelo Estado russo, posa como canal de notícias internacional, porém, até este momento, não se impôs no cenário midiático. Para Maria Lipman, do centro Carnegie em Moscou, o programa de Assange dá visibilidade para o canal e serve aos interesses russos.
"Assange odeia os Estados Unidos, este é o seu credo, como é o do líder do Hezbollah. A posição oficial russa vis-à-vis os americanos é dupla: por um lado existem relações que são estimuladas (...) do outro uma propaganda anti-americana desenfreada", diz.
Mas, para além da acrobacia, Lipman duvida que esta estratégia compense em longo prazo. "Se o objetivo é competir com BBC, Al-Jazeera, CNN, não está na direção certa, o uso do escândalo não é adequado para as ambições de atingir um público amplo internacional", considera.
Assange, por sua vez, garante que não poderia trabalhar para uma empresa de mídia ocidental, já que o seu alvo principal são os Estados Unidos. "Estamos em um confronto com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (...) precisávamos de uma parceira de mídia que tivesse a capacidade de falar", ressaltou.
"Se o Wikileaks tivesse publicado um grande volume de coisas sobre a Rússia, a situação poderia ter sido diferente. Mas, no momento, o nosso grande confronto é com o ocidente", ressaltou. Ele também acusou a mídia americana de ser "incapaz de criticar o abuso do poder militar americano" e a BBC de ser "hostil".
Na Rússia, o fundador do Wikileaks recebeu em dezembro de 2010 o apoio do primeiro-ministro Vladimir Putin. "Por que colocaram Assange na prisão? Isso é democracia?", questionou na ocasião. O presidente Dmitry Medvedev havia observado o "cinismo dos julgamentos e raciocínios" dos americanos foram expostos.