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Assassino da Noruega diz que agiu em nome dos Direitos Humanos

Agência France-Presse
postado em 17/04/2012 15:10
OSLO - "Sim, eu faria de novo", afirmou nesta terça-feira o extremista de direita norueguês Anders Behring Breivik no tribunal de Oslo, no segundo dia do julgamento pelo massacre de 77 pessoas no ano passado.

"Sim, eu faria de novo", repetiu, antes de explicar que executou "a mais espetacular operação realizada por um militante nacionalista neste século".

"Os ataques de 22 de julho foram ataques preventivos para defender os noruegueses autênticos. Atuei em uma situação de emergência e em nome do meu povo, da minha cultura e de meu país. E, portanto, peço para ser libertado", completou. "Uma pequena barbárie é totalmente necessária para impedir uma barbárie muito maior", afirmou em outro momento do depoimento.

O advogado de defesa, Geir Lippestad, já havia prevenido a opinião pública que o discurso de Breivik seria de difícil tolerância. Depois de ter prometido aos juízes que aliviaria a retórica se tivesse permissão para ler uma declaração preliminar, Breivik iniciou um discurso que obrigou a juíza Wenche Elizabeth Arntzen, que preside o processo, a interrompê-lo diversas vezes para lembrá-lo do compromisso assumido.

"As pessoas que me chamam de diabólico confundem ser diabólico com ser violento", declarou Breivik com voz calma, antes de destacar que "passar o resto da vida na prisão ou morrer como um mártir por seu povo é a honra máxima (...). É um dever". "Se há alguém diabólico, são os social-democratas e os marxistas culturais, porque desejam transformar o país em uma sociedade multicultural sem consultar a população".

"É democrático que o povo norueguês nunca tenha sido consultado em um referendo para saber se aceita tantos estrangeiros, a ponto de virar uma minoria em seu próprio país?", questionou o acusado.

Neste sentido, o acusado declarou ter atuado em nome dos direitos humanos, com o objetivo de salvar seu povo, e que se viu influenciado em seu modus operandi por Al-Qaeda.

"Se levarmos em conta a Declaração Universal dos Direitos Humanos como ponto de partida, pode-se dar a si mesmo a ordem de defender seu país", declarou Breivik, convencido de que seus "irmãos nacionalistas europeus terminarão vencendo porque não aceitamos que nossos países sejam colonizados contra nossa vontade".

Para chegar a esse fim, os nacionalistas europeus têm, segundo ele, "muito a aprender com a Al-Qaeda, a organização militante mais bem sucedida do mundo".

Dessa forma, os atentados reivindicados pela Al-Qaeda, como os de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, propiciaram uma mudança em sua formação ideológica e o levaram a passar à ação, explicou.

Com a voz serena, o réu disse que agiu porque seu povo é "vítima de uma desconstrução sistemática que equivale a uma limpeza étnica".

--- Os adolescentes assassinados não eram inocentes ----

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No tribunal, ante o público formado por famílias de vítimas dos massacres que balançavam as cabeças em um gesto de desaprovação ou impaciência, Breivik criticou abertamente os alvos de seus crimes.

Ele disse que os adolescentes assassinados na ilha de Uttoeya que integravam a Juventude Trabalhista não eram "crianças inocentes".

"Os jovens do Partido Trabalhista são ingênuos doutrinados, não eram crianças inocentes e sim militantes políticos", afirmou Breivik, que matou 69 pessoas em Uttoeya, a maioria adolescentes que estavam em um acampamento de verão do partido.

"Matar 70 pessoas pode impedir uma guerra civil", disse Breivik.

"Quando a revolução pacífica é impossível, a única opção é a revolução violenta", completou ele, que sempre mencionou a palavra "nós" ao falar de sua causa, dando a entender que representa um movimento mais amplo.

O extremista atribuiu aos muçulmanos estupros e agressões contra "irmãos e irmãs norueguesas".

Os muçulmanos, disse ele, "desprezam a cultura norueguesa".

"Os rios de sangue causados pelos muçulmanos chegam agora às cidades europeias", completou, antes de citar ataques em Madri, Londres e Toulouse.

O segundo dia do processo já havia começado de maneira problemática, depois que a acusação, a defesa e os advogados das partes civis pediram e conseguiram a retirada do juiz adjunto Thomas Indreboe, um dos três juízes adjuntos da sociedade civil e que auxiliam os juízes profissionais.

A saída de Indreboe se tornou prioritária depois que foi divulgado que logo após os ataques, em julho do ano passado, ele defendeu a pena de morte para Breivik.

"A pena de morte é a única solução justa neste caso", escreveu Indreboe na ocasião.

Apesar de a pena capital não figurar no código penal norueguês, a declaração "fragilizou a confiança na imparcialidade do julgamento", explicou a juíza Arntzen, em uma situação na qual Breivik não conseguiu evitar o sorriso.

Ao chegar ao tribunal, Breivik reproduziu o gesto provocador da véspera, com o braço direito estendido e o punho fechado, no que ele denomina de representação da "força, honra e desafio aos tiranos marxistas na Europa".

A acusação apresentou na segunda-feira as acusações contra Breivik, enumerando uma a uma as 77 vítimas, a forma como cada pessoa faleceu e o passado do acusado. Breivik respondeu que é inocente.

Em 22 de julho do ano passado, Breivik matou oito pessoas ao detonar uma bomba no centro Oslo. Depois, disfarçado de policial, abriu fogo contra jovens social-democratas que participavam de uma reunião na ilha de Uttoeya, perto da capital.

Breivik voltou a mencionar nesta terça-feira a existência de "outras duas células"autônomas e constituídas cada uma por apenas um indivíduo .

O título "comendador" utilizado por Breivik para falar sobre si mesmo "se refere a uma pessoa que tem uma autoridade e laços flexíveis com outras duas células", explicou o extremista.

"Sou uma célula autônoma e independente, e estou em contato com outras duas", declarou no tribunal, antes de completar que cada uma delas é composta por uma pessoa.

Breivik afirmou ser membro da organização Cavaleiros Templários, mas os promotores do processo duvidaram na segunda-feira da existência do grupo.

Nesta terça-feira, o assassino confesso insistiu que tudo o que disse sobre o grupo é verdade, mas alterou um pouco sua descrição, afirmando que o mesmo é integrado por poucos indivíduos na Europa.

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