Agência France-Presse
postado em 20/04/2012 19:08
Damasco - Milhares de manifestantes contrários ao regime cercaram nesta sexta-feira (20/4) os observadores internacionais mobilizados na Síria para supervisionar um cessar-foco, classificado de "muito frágil" pelo emissário internacional Kofi Annan.Violado diariamente depois de sua entrada em vigor no dia 12 de abril, a trégua foi novamente comprometida com a morte de 14 civis abatidos pelas forças do governo, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), enquanto 18 membros das forças de ordem foram mortos por "terroristas", segundo a imprensa oficial.
Os manifestantes cercaram a equipe de observadores já no terreno, criticando o número de integrantes --menos de dez--, considerado muito pequeno.
"Onde estão os observadores?", "Onde estão as resoluções vinculantes do Conselho de Segurança?", "Cinco observadores para vigiar Bashar?" eram frases escritas pelos manifestantes em cartazes em todo o país, segundo vídeos postados pelos militantes.
Depois de ter hesitado, Damasco assinou na quinta-feira (19/4) o protocolo organizando o trabalho dos observadores, condição para a manutenção de sua missão iniciada na segunda-feira.
Seu chefe, o coronel Ahmed Himmiche, afirmou à AFP, no entanto, que eles não assistiram às manifestações para evitar que sua "presença seja utilizada" para favorecer "uma escalada" da violência.
Segundo o OSDH, a violência deixou 14 civis mortos nesta sexta-feira (20/4), sendo seis em tiroteios durante as manifestações, cinco em novos bombardeios a Homs (centro) e três em operações militares na cidade vizinha de Qousseir.
Enquanto isso, 12 soldados morreram em várias explosões na região de Deraa (sul), segundo o OSDH. A imprensa oficial anunciou, por sua vez, um total de 18 mortos entre as forças de segurança em ataques "terroristas" em todo o país.
Com a violência elevando para cerca de 150 o número de mortos desde a entrada em vigor do cessar-fogo no dia 12 de abril, Paris quer apresentar rapidamente um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para uma missão de observação mais forte.
Essa futura força deverá ter os meios de fazer com que seja "respeitada a liberdade de manifestação", segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé. O respeito à liberdade de manifestação está previsto pelo plano de Annan, que Damasco se comprometeu a respeitar, mas viola regularmente, segundo os militantes e a oposição.
Frente à continuação da violência, o porta-voz de Kofi Annan, Ahmed Fawzi, classificou o cessar-fogo de "muito frágil" e considerou que a situação no terreno "não é boa".
Moscou, grande aliado de Damasco, considerou mais uma vez que a trégua está sendo totalmente respeitada.
"Homs, estamos contigo até a morte", gritavam milhares de manifestantes em Qamichli, no nordeste curdo, e milhares de outros protestaram em quase todas as regiões do país, que enfrenta desde 15 de março de 2011 uma revolta que se militarizou com o passar do tempo, deixando mais de 11.000 mortos, segundo o OSDH.
Em toda a Síria, militantes indicaram uma mobilização militar massiva, que bloqueou várias mesquitas, tradicional ponto de partida das manifestações após as orações de sexta-feira (20/4).
Considerando que o plano Annan está "fadado ao fracasso" por causa da falta de cooperação do regime, os rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL) pediram na quinta-feira à noite uma intervenção militar internacional sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, paralisado pelos vetos russo e chinês.
Se os países ocidentais continuarem a rejeitar qualquer recurso à força fora do mandato da ONU, quinze chefes de diplomacia árabes e ocidentais mencionaram na quinta em Paris um eventual envolvimento da Otan.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, revelou que a Turquia pretendia recorrer à Carta da Otan, que prevê a solidariedade entre seus Estados membros, depois dos bombardeios na fronteira com a Síria.
Os Estados Unidos pediram nesta sexta-feira (20/4) a seus aliados que estejam prontos para "acentuar a pressão" sobre a Síria, se o plano para a paz de Annan fracassar.
"Devemos nos preparar para o melhor, mas também nos preparar para acentuar a pressão em caso contrário", declarou a porta-voz da diplomacia americana, Victoria Nuland.
Juppé mencionou, sem dar detalhes, "outras opções" em caso de fracasso do plano Annan, que abriria, segundo ele, "o caminho para a guerra civil".
Favorito na eleição presidencial na França, François Hollande declarou que seu país participará de uma intervenção militar, caso seja eleito e uma medida como esta seja decidida pela ONU.
A Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) anunciou que contribuirá com as missões de observação da ONU, depois de já ter participado de uma missão humanitária das Nações Unidas.