Agência France-Presse
postado em 27/04/2012 19:10
Montevidéu - O combate à corrupção teve avanços nos últimos anos na América Latina, mas a situação difere de país a país e os desafios persistem, avaliou nesta sexta-feira (27/4) Francesca Recanatini, especialista sênior de governabilidade do Banco Mundial (Bird)."Podemos observar avanços. No tema dos subornos, da propina, conhecemos quais são os mecanismos, como se pode enfrentar e resolver, e em muitos países estamos vendo que está diminuindo", afirmoum Recanatini, que chegou a Montevidéu para participar do Primeiro Encontro de Órgãos Superiores de Controle da Corrupção no Mercosul.
A especialista observou "uma mudança muito significativa na região nos últimos 15 anos no interesse de falar e se dar conta de que (a corrupção) é um problema e um tema muito complexo".
"É uma mudança que veio em nível internacional, também é um dar-se conta em todos os países de que não se pode crescer sem um nível de governabilidade melhor e é preciso enfrentar o tema da corrupção", explicou.
"Se todos começamos a falar disto, nos damos conta de que o custo da corrupção não é somente o de pagar o suborno, é um custo social para o país porque não consegue crescer", enfatizou.
No Mercosul, assim como nas outras regiões do mundo, "há países que estão assumindo a liderança para melhorar e há outros que ainda estão olhando os que tomam a liderança e vendo como integrar essas iniciativas", avaliou, explicando que muitos países ainda têm desafios em outras áreas prioritárias, como a econômica ou a educacional.
"Em geral se fala muito nesta região e há uma capacidade de compreender quais são os temas. Há desafios econômicos que, às vezes, empurram este tema para trás, mas há um interesse", destacou.
Nesse sentido, mencionou iniciativas que estão sendo tomadas no Brasil e no Chile, embora "o tema da corrupção seja tão complexo que pode ser que em um país estejam tomando iniciativas muito interessantes em uma área, mas não em outra", advertiu.
Por exemplo, "em alguns países vemos uma melhora na questão dos subornos, mas no tema de licitações públicas, alguns países conseguiram melhorar e outros, não. Na gestão dos recursos públicos tampouco estamos observando muitos avanços", afirmou Recanatini, destacando que embora seja útil observar a experiência de outros países, ela não pode importar passivamente, uma vez que cada governo deve aplicar sua própria estratégia.
Para a especialista, que enfatizou que crescimento econômico e corrupção não caminham de mãos dadas, "tudo tem a ver com aumentar a transparência e a prestação de contas. Assim o cidadão sabe quais são seus direitos e o funcionário deve prestar contas do que está fazendo".
"Quando começamos a falar de corrupção no Banco Mundial em 1995-1996, só havia os esforços da Transparência Internacional para ajudar a medir. Agora há muitas ONGs que estão fazendo estudos em todo o mundo", como Global Integrity, Open Budget, entre outras, além de iniciativas locais, assegurou.
"O tema é quais são os mecanismos a desenvolver e o nível de compromisso político no país para desenvolver uma estratégia", acrescentou.
Recanatini sustentou que é preciso parar de falar em um nível muito abstrato. "Para melhorar a governabilidade e diminuir a corrupção é necessário um enfoque de médio e longo prazos. Primeiro se faz necessário um compromisso político de alto nível; segundo, envolver todos os cidadãos, os empresários, os funcionários", explicou.
Nesse sentido, a funcionária do Bird enfatizou que a capacitação não começa com os adultos, mas com as crianças em idade escolar.