postado em 28/04/2012 14:43
A projeção de um cenário eleitoral na Venezuela sem a presença do presidente Hugo Chávez - em tratamento para combater um câncer na zona pélvica - é foco de polêmica no país a seis meses das eleições presidenciais. Em uma reunião fechada com membros do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) , o governador do Estado de Portuguesa, Wilmar Castro Soteldo - designado por Chávez como coordenador de Medição e Avaliação do comando de campanha - disse que há três cenários possíveis para o pleito presidencial de outubro, entre eles a possível ausência de Chávez como candidato.Essa foi a primeira vez que um membro do partido governista admitiu, ao menos publicamente, que Chávez poderia não ser o candidato chavista que disputaria as eleições contra o candidato de centro-direita Henrique Capriles Radonski, representante da coalizão opositora. "Chávez tem câncer e qualquer conflito pode desatar em três cenários: Chávez debilitado, sem Chávez ou sem eleições", afirmou Castro Soteldo, de acordo com a imprensa local.
A hipótese de suspensão das eleições foi mencionada, segundo ele, em um contexto de suposto "conflito" gerado pela oposição. O "caos", disse, poderia levar à suspensão do pleito eleitoral. Essa hipótese de "crise social" provocada pela oposição antes das eleições é reiterada por diferentes membros do governo.
Representantes da coalizão opositora rejeitaram as acusações e convocaram o PSUV a respeitar a data das eleições. "Não podemos depender da possibilidade de o presidente ser ou não candidato (...) . As eleições serão em 7 de outubro, com ou sem Hugo Chávez como candidato", disse o deputado opositor Juan Carlos Caldera.
A chefe de governo de Caracas, Jacqueline Faría, disse que as declarações de Soteldo foram mal interpretadas e negou que o PSUV esteja costurando uma candidatura alternativa à de Chávez. O único plano é um "contundente triunfo (com Chávez)" nas eleições de outubro, disse Faria em um ato público.
Na visão do especialista em opinião pública Ivan Abreu, da Universidade Central da Venezuela, uma candidatura chavista alternativa a Chávez altera todo o panorama eleitoral. A seu ver, apesar do desgaste de 13 anos no poder e do estilo personalista, "Chávez é o único líder do chamado processo revolucionário e é o candidato com maior carisma e captação", disse. "Capriles Radonski é visto como um candidato mais ;gerencial;, mas não como um líder que arrasta massas" observou.
Se Chávez ficar fora da disputa, a oposição tenderia a incrementar suas possibilidades na disputa. Porém, não representa uma vitória "automática" antichavista, adverte o analista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela. A disputa pelo poder entre as diferentes correntes chavistas - que navega entre a direita e a esquerda - deverá ser definida pelo próprio Chávez. Se estiver impedido de assumir a candidatura presidencial - hipótese negada pelo próprio mandatário, que reitera a cada aparição pública sua candidatura - ele terá de escolher um sucessor.
A reaparição pública do mandatário de 57 anos é aguardada com expectativa. Ele voltou de Havana na madrugada de quinta-feira (26), onde ficou 11 dias em tratamento com radioterapia. Desde então não foi mais visto publicamente.