Damasco - As autoridades sírias organizaram nesta segunda-feira eleições legislativas em um contexto de violência no país, com o objetivo de conferir alguma credibilidade ao regime, mas a oposição boicotou o processo criticado pela ONU e pelos Estados Unidos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, denunciou nesta segunda-feira a organização de eleições legislativas na Síria, enquanto "a violência continua", e os Estados Unidos indicaram que o processo eleitoral "beira o ridículo".
A televisão oficial síria exibia imagens de eleitores votando em várias regiões do país, mas os opositores asseguravam que havia um boicote nas cidades rebeldes.
"A eleição se desenvolve normalmente, os eleitores vão para os colégios eleitorais", comentou o ministro do Interior, Mohamad al-Shaar.
Mas em várias regiões rebeldes as pessoas acatavam uma greve convocada pela oposição, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) e fontes opositoras.
No total, 7.195 candidatos competem em todo o país pelos 250 assentos de deputados, que adotarão uma série de reformas prometidas pelo chefe de Estado.
Para isso, foram criados e homologados nove partidos, dos quais sete apresentam candidatos nestas eleições. Até a adoção por referendo, em fevereiro passado, da nova Constituição, o artigo 8 da lei fundamental concedia um papel de liderança na sociedade ao partido Baath, no poder desde 1963.
A oposição, que exige a saída do presidente Bashar al-Assad, criticou a pretensão do regime de buscar credibilidade nestas eleições.
"Quem derrama o sangue na Síria, impulsiona o êxodo de dois milhões de sírios e dispara contra o povo não tem legitimidade alguma para redigir uma Constituição, promulgar uma lei eleitoral ou convocar eleições", afirmou nesta segunda-feira o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, em um comunicado.
O ministro sírio da Informação, Adnan Mahmoud, afirmou no domingo que estas legislativas são um "desafio à guerra terrorista" travada contra a Síria.
Damasco não reconhece a magnitude da rebelião e a acusa de estar ligada a terroristas e de fazer parte de um "complô" financiado pelo exterior.
Neste dia eleitoral a violência não deu trégua no país. As forças de segurança mataram oito civis em diferentes regiões do país, segundo o OSDH.
O regime e a oposição se acusam mutuamente de promover atentados com explosivos em Damasco e Aleppo. As autoridades do regime afirmam ter adotado as medidas necessárias "para impedir qualquer desvio" em temas de segurança "que influencie o processo eleitoral".
[SAIBAMAIS] "Estas eleições apresentarão uma resposta definitiva para a crise", assegurou Chahba Karim, de 18 anos, após votar em Damasco. "Voto porque apoio as reformas, mas é prioritário que os deputados se ocupem do desemprego para que os jovens sírios não saiam do país", acrescentou esta jovem, expressando o ponto de vista de eleitores entrevistados pela televisão estatal.
"É necessário que estas eleições sejam confiáveis e que as pessoas participem para mostrar sua inquietação diante da crise, só assim encontraremos uma solução", afirmou Laith al-Allaj, estudante de 22 anos.
Já a oposição considera que estas eleições são "mascaradas, mais uma farsa, que se soma a todas as do regime", considera Bashar al-Haraki, membro do CNS.
As eleições demonstram que "o regime não pretende buscar uma saída política para a crise" e que "continua tendo o mesmo comportamento que há um ano, ignorando (...) a revolução que ocorre", denunciou Omar Idlebi, porta-voz dos Comitês de Coordenação Locais (LCC), responsáveis por dirigir a revolta.
Estas eleições ocorrem após mais de 13 meses marcados pela violência, que já deixou mais de 11.100 mortos, em sua maioria civis, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), e forçou 65.000 sírios a buscarem o exílio, segundo a ONU.
Os confrontos prosseguem, apesar do cessar-fogo previsto pelo plano de Kofi Annan desde o dia 12 de abril, que também incluiu o envio de observadores, que já estão no país.