Agência France-Presse
postado em 09/05/2012 14:36
Jerusalém - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, abriu as portas do governo ao partido opositor Kadima por razões de política interna, mas também com o desejo de ter uma margem maior de manobra em caso de um ataque contra o Irã, consideraram analistas.Netanyahu e o líder da oposição, Shaul Mofaz, concordaram em formar um governo de união nacional que evite eleições legislativas antecipadas. Com isso, o primeiro-ministro se situa à frente da coalizão mais ampla da história de Israel.
O anúncio, inesperado, mostra, segundo os analistas, as dificuldades de Netanyahu em seu próprio partido, o Likud (direita). Para se manter, o chefe de governo preferiu dar uma guinada para o centro do que enfrentar a facção radical dos colonos, que o criticam por ter traído "os valores tradicionais do partido ao se mostrar frágil diante do avanço da colonização".
"Netanyahu estava submetido à pressão da ala mais à direita de seu partido, sobretudo, devido à questão das colônias", explicou à AFP o analista da Universidade de Tel Aviv, Mark Heller.
"O novo governo é uma boa solução para ele e para Mofaz, que também atravessava dificuldades", acrescentou.
Segundo este especialista, Mofaz preferiu entrar no governo "com seus 28 deputados, do que esperar as próximas eleições para se tornar um interlocutor de segunda categoria com entre 10 e 11 assentos".
Segundo as pesquisas, o partido de Mofaz, Kadima, majoritário na Knesset (Parlamento), à frente do Likud, teria um fracasso retumbante em caso de eleições antecipadas.
Os israeleneses demonstravam um entusiasmo prudente frente a esta aliança entre Netanyahu e Mofaz, ex-chefe do Estado-Maior e ex-ministro da Defesa.
Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo jornal Haaretz, considerado de esquerda, mostrava que apenas 23% das pessoas consultadas acreditam que este acordo foi motivado pelo interesse nacional, enquanto que 63% consideram que as verdadeiras razões são de cunho político e pessoal.
Além das manobras políticas, a possibilidade de um ataque às instalações nucleares iranianas, consideradas por Israel uma ameaça para a sua própria existência, também pesou no momento de tomar esta decisão, segundo especialistas.
Shmuel Sandler, professor de Ciência Política da Universidade de Bar Ilan, perto de Tel Aviv, considerou que, embora esta não seja a "única razão", "não é um fator que se possa desprezar".
"Netanyahu está muito nervoso com o Irã. Um ataque israelense terá o apoio de uma maioria parlamentar muito ampla. Mas eu acho que a decisão de atacar o Irã ainda não foi tomada", considerou Sandler.
O primeiro-ministro não acredita que as sanções internacionais contra Teerã sejam eficazes.
Para Ari Shavit, editorialista do Haaretz, "a verdadeira finalidade deste novo governo é o Irã".
O especialista comparou a decisão de Netanyahu com a que foi tomada pelo chefe de governo Levi Eshkol em 1967, logo antes da guerra dos Seis Dias, quando permitiu a entrada no governo de Menahem Begin e Moshé Dayan para criar uma coalizão sólida.
"Um governo de união nacional atribui uma legitimidade interna e externa para um possível ataque", considerou Shavit.
No entanto, a posição de Netanyahu e de seu ministro da Defesa, Ehud Barak, relativa ao Irã se choca com a hesitação das autoridades das Forças Armadas e dos serviços de inteligência.
"Se ;Bibi; (Benjamin Netanyahu) decidir atacar o Irã, algo que não é seguro, ele dependerá da aprovação das autoridades de Defesa e dos Estados Unidos", lembra Mark Heller.