Agência France-Presse
postado em 09/05/2012 20:04
La Paz - O governo esquerdista de Evo Morales está acuado por conflitos sociais, com manifestações da Central Operária Boliviana (COB), maior sindicato do país contrário a um aumento salarial de 8%, e de médicos em greve há um mês.A Praça de Armas da cidade de La Paz, sede dos poderes Executivo e Legislativo, e as administrações aliadas ao governo de Tarija, nos vales do sul, e Potosí, no sudoeste andino, foram os epicentros dos conflitos, constataram os canais privados de televisão Unitel e PAT.
Em La Paz, mineiros, trabalhadores da saúde e estudantes de medicina enfrentaram a Polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, quando estes tentavam entrar à força na Praça de Armas.
Os manifestantes utilizaram dinamites, bombas caseiras, paus e pedras para tentar romper a forte cerco policial que repeliu o ataque.
A rede de transportes públicos no centro de La Paz entrou em colapso por causa dos protestos de rua, que começaram com uma marcha de milhares de trabalhadores, mineiros e universitários que percorreu as principais vias da cidade.
O comércio, os bancos e o trânsito não foram prejudicados, exceto em algumas estradas das cidades de Santa Cruz, Potosí e Chuquisaca onde houve bloqueios esporádicos nas estradas.
"Estamos em uma marcha de protesto, os trabalhadores vão expressar seus sentimentos", afirmou em uma rua de La Paz o dirigente da COB, Juan José Guzmán.
O líder sindical disse: "Não estamos de acordo com o aumento salarial de 8%" decretado na semana passada pelo governo de Morales.
Durante o percurso, os manifestantes gritaram palavras de ordem contra Morales, em seu sétimo ano no poder, ao qual chegou depois de prometer justiça social em um dos países mais pobres da América.
"Evo dizia, que tudo mudaria! Mentira, mentira, a mesma porcaria", " O povo unido jamais será vencido", cantavam em repúdio ao governo.
"Há interesses políticos nestas marchas, mas tudo tem limite", disse o vice-ministro do Interior, Jorge Pérez.
Em Tarija e Potosí os estudantes atacaram as sedes das administrações governamentais com pedras e paus, ateando fogo nas portas em uma tentativa de entrar nos escritórios à força, diante da ausência de policiais, segundo canais de TV.
Nos departamentos amazônicos de Santa Cruz (leste) e Beni (nordeste) foram principalmente os médicos e paramédicos que incentivaram os protestos com bloqueios de estradas. Os profissionais da saúde rejeitam um decreto governamental que aumenta de seis a oito horas a jornada de trabalho.
Também há uma marcha indígena rumo a La Paz a partir da Amazônia, em oposição à construção de uma estrada com recursos do BNDES através de uma reserva ecológica que o governo insiste em construir, apesar de a causa nativa ter apoio quase generalizado.
"Estamos em uma situação de agitação muito grande", explicou o chefe da unidade de conflitos da Defensoria do Povo, Gregorio Lanza, ao expor sobre a atual situação boliviana.
"São conflitos sociais que surgem por demandas sociais, pois o governo gerou expectativas demais", disse Lanza, ao se referir à propaganda oficial na imprensa sobre os ganhos econômicos que o governo diz ter obtido depois da nacionalização dos hidrocarbonetos em 2006.
O governismo diz que o investimento público aumentou de cerca de 600 milhões de dólares antes de Morales para 2,4 bilhões de dólares no último ano e que o nível de reservas internacionais se situa de forma inédita nos 12 bilhões de dólares.
"Vemos que há uma ausência de gestão pública", disse Lanza ao falar sobre um dos calcanhares de Aquiles do governo: a falta de profissionais capacitados nos postos chaves da administração pública.
Outro elemento - diz - é a "ausência de gestão na prevenção de conflitos", pois a administração de Morales pensou que por ser um governo que surgiu de movimentos sociais de agricultores e operários, estes não protestariam, como acontece agora.
"É preciso mudar o rumo da gestão, se não os problemas vão continuar", concluiu.